São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 1994
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Profeta da desgraça

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A inflação de agosto assustou Rubens Ricupero. O ministro da Fazenda, ontem à tarde em cadeia de televisão, manteve o semblante beneditino de sempre, mas estava muito diferente, até perdido, na retórica, nas palavras.
A exemplo de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, que passou o dia questionando Lula –e o que acredita ser utilização eleitoral e negativista do índice– o ministro procurou atacar quem só encontra más notícias, a seu ver, quanto ao Plano Real.
Disse o ministro: "Os profetas da desgraça querem agora fazer barulho em torno do único índice que mostrou uma queda menor de inflação –a exceção no meio de todos os índices indicando que a inflação está caindo muito."
O alvo foi Lula, não tem outro. O candidato petista, que passou gaguejando os últimos dois meses, na vigência do real, acredita ter encontrado uma saída eleitoral nos primeiros tropeços do plano, com a taxa de inflação do IBGE.
Fernando Henrique vai tratando de reagir, dizendo que não é bem assim. Que outros índices vêm aí, ainda esta semana, para derrubar o "profeta da desgraça". Para o bem ou para o mal, ainda é o real que vai eleger o presidente.
Melhor ou pior
No fundo, nem mesmo Rubens Ricupero parece ter-se decidido se o IPC-r é uma "desgraça" ou não. De um lado, o ministro criticou a "exceção" do índice, o fato de que está "muito acima da inflação verdadeira", a dos outros.
Assim, o que ficou, do confuso pronunciamento, bem diverso dos seus anteriores, foi bem menos um esclarecimento sobre a inflação e mais o esforço trêmulo de manter a união em torno do real –seja o plano ou o candidato.
E ficou o novo pedido, mais um, para parar de comprar. Da manchete do Jornal Bandeirantes: "O governo volta a apelar para o consumidor: Compre menos." Não é grande coisa, como ajuste. E já começa a aborrecer.
Secessão petista
Enquanto o plano tropeça, os petistas mordem-se uns aos outros. Ontem o TJ mostrou o confronto na direção da campanha.
É que "os dirigentes petistas acreditavam tanto na vitória no primeiro turno que dispensaram os políticos", quer dizer, a direita. Agora ela está de volta.
José Genoino, entrevistado, já falava como novo centro do poder. "Nós vamos colocar a campanha na rua", dizia, sorrindo.
A secessão está só começando.

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