São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 1994
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Economistas apontam problemas no plano

FERNANDO RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

A aprovação do real deixou de ser uma quase unanimidade entre economistas de fora do PT.
Economistas de centro ou conservadores ouvidos ontem pela Folha apontam erros no plano econômico.
O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira, 60, classifica assim o IPC-r: "Esse índice é uma grossa besteira criada pela equipe econômica do governo".
Bresser é filiado ao PSDB e coordena a parte financeira da campanha de FHC. Apesar de suas críticas ao índice oficial de inflação, faz questão de dizer que o erro não causará problemas para a condução do plano econômico.
"Às empresas têm condições de absorver o aumento de 11,87%. Tinha empresa que antes estava dando até 20% sem repassar para os preços", diz o ex-ministro.
Uma dessas empresas será a Petrobrás, pois os petroleiros têm data-base em setembro. Indagado se a estatal teria condições de absorver o aumento, Bresser respondeu afirmativamente.
O ex-ministro do Planejamento Roberto Campos, 75, discorda. Deputado federal pelo PPR-RJ, Campos acha que a Petrobrás terá dificuldades para pagar um aumento de 11,87% em setembro.
"Na iniciativa privada, não tem problema. Mas, nas empresas públicas, essa gente não se preocupa com produtividade. E vai querer repassar para os preços o que tiver de aumento de salário", diz.
Mailson da Nóbrega, 52, concorda parcialmente com Roberto Campos. "É ser exageradamente esperançoso dizer que isso não terá impacto nos preços. Terá, sim."
Numa escala de 0 a 10, Mailson acha que o impacto do IPC-r sobre o sucesso do real "fica por volta de uns 2 ou 3".
Mailson foi o último ministro da fazenda do governo Sarney. Substituiu Bresser. Acha que seria importante a equipe econômica ter tomado algumas precauções antes de implantar o real.
"Eles poderiam ter transformado tudo em URV antes do real. Poderiam ter modificado os aluguéis em maio. O impacto teria vindo antes da implatação da moeda."
Mailson também acredita que o governo poderia ter esperado mais para lançar a nova moeda. "Falar de obra feita é fácil. Mas é claro que, quanto mais tempo se demorasse com a URV, menos distorções teríamos com o real", diz.

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