São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 1994
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Desperdício no país chega a 1/3 do PIB

RICARDO GANDOUR; ANTONIO CARLOS SEIDL
EDITOR DE SUPLEMENTOS

ANTONIO CARLOS SEIDL
O Brasil desperdiça US$ 150 bilhões por ano, cerca de um terço do PIB (Produto Interno Bruto, a soma do valor dos bens e serviços produzidos no país em um ano).
Esta é a principal conclusão de um estudo do IE (Instituto de Engenharia), de São Paulo, sobre a ordem de grandeza do desperdício brasileiro.
O estudo foi apresentado pelo presidente do IE, Alfredo Mário Savelli, ontem, na abertura do 5º Encontro Nacional pela Melhoria da Qualidade e Produtividade.
Em 1992, o primeiro levantamento do IE sobre o nível de desperdício brasileiro apontava um valor de US$ 50 bilhões, correspondente a 14,5% do PIB.
O estudo atual, que complementa o levantamento de 1992 com o acréscimo de dados significativos para a qualidade de vida, conclui que não houve esforços sistemáticos para a redução do desperdício.
A tese central do novo estudo argumenta que retirando-se do PIB a ineficiência da gestão e a ineficácia da estratégia, chega-se à parcela do PIB que realmente é entregue ao consumidor.
Segundo projeções do consultor do IE, Yuichi Tsukamoto, a parte do PIB brasileiro que é drenada para todo tipo de desperdício atinge US$ 150 bilhões.
Savelli disse que os dados mostram desperdícios aparentes e mensuráveis, chamados de primários. Ele afirmou, porém, que um grande número de outros desperdícios, de difícil quantificação mas facilmente detectáveis, dão uma idéia da parte submersa do iceberg.
Savelli destacou o consenso entre estudiosos segundo o qual para a geração de um emprego é necessário investimento de US$ 20 mil.
"Se fosse possível reduzir o desperdício em US$ 20 bilhões, poder-se-ia gerar mais um milhão de empregos", afirmou.
O estudo aponta dois "pródigos esbanjadores" de recursos no Brasil: o Estado empresário e a priorização dos investimentos públicos, com ausência da engenharia.
Tsukamoto disse que o combate ao desperdício passa pela adoção do conceito dos "5 S" no país. Os "5 S" (cinco expressões japonesas iniciadas com S) nasceram no Japão do pós-guerra como forma de colocar a "casa em ordem".
As cinco expressões japonesas significam: discernimento, ordenação, simplicidade, compromisso, e ética e disciplina.
Tsukamoto disse que como a atual estabilização monetária será uma âncora para a futura estabilização econômica do Brasil, os "5 S" representam uma âncora para a competitividade brasileira.
Segundo Tsukamoto, a grande importância dos "5 S" para o Brasil de hoje é que a sociedade cívica é que irá criar o Estado e não vice-versa, como ocorria no pasado. "O Estado não cria a riqueza; o engajamento cívico, sim."
Para acabar com o desperdício no país, os "5 S" para o futuro do Brasil, segundo Tsukamoto, são: nova Constituição (discernimento), reforma estruturais (ordenação), menos Brasília, mais Brasil (simplicidade), criação participativa do valor (compromisso) e ser humano (ética).

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