São Paulo, quarta-feira, 31 de agosto de 1994
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"There is no free lunch"

A perspectiva de inflação baixa em setembro, estimada em 1,5% a 2%, mantém, no curto prazo, as expectativas ainda otimistas em relação ao início do processo de estabilização. Esse horizonte, mais do que questões metodológicas envolvendo os índices de preços, é o que reduz o impacto do IPC-r de 5,46% verificado em agosto.
Como o governo estabeleceu que o IPC-r será o índice de correção dos salários, a inflação de 11,9% acumulada em julho e agosto será repassada aos rendimentos das categorias que têm dissídio em setembro. Esse fato e o incremento nas vendas estão, provavelmente, entre as razões do governo para se preocupar em conter o consumo.
Não se pode descartar que um aumento de demanda venha a trazer problemas para a estabilização. Mas a capacidade ociosa existente na grande maioria dos setores econômicos, que permite aumentar a produção sem elevar necessariamente os preços, indica que, até o momento, as restrições ao consumo têm um caráter apenas preventivo.
Facilitar as importações, limitar as vendas a prazo e elevar ainda mais os juros são iniciativas que visam impedir novas pressões sobre os preços. Ademais, elas sinalizam, se implementadas, que o governo está empenhado em prevenir qualquer repique da inflação.
Ainda que seja coerente com o esforço de estabilização, a provável adoção de medidas de contenção da atividade econômica mostra que o combate à inflação é um processo necessariamente doloroso. Por mais que o governo procure omiti-lo, talvez pensando no calendário eleitoral, é inegável que a criação e a sustentação de uma moeda estável têm custos e exigem sacrifícios. Ou, como diz o ditado, "there is no free lunch" (não há refeição grátis).
Nesse sentido, faz-se ainda mais evidente a importância de realizar rapidamente as reformas estruturais que podem dar viabilidade à estabilização no longo prazo. Afinal, a inflação não foi debelada. Ela está apenas anestesiada e voltará certamente caso não se construam fundamentos sólidos sobre os quais assentar a nova moeda.

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