São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994
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Gal Costa e Gerald Thomas criam expressionismo descalço

FERNANDA SCALZO
DA REPORTAGEM LOCAL

O show "O Sorriso do Gato de Alice", que estreou quinta-feira passada no Palace, é uma feliz e inusitada combinação da "baianidad" de Gal Costa com a teatralidade de Gerald Thomas. Resulta num expressionismo descalço, à beira da praia.
Quando começa o espetáculo, em cima do telhado, com os olhos arregalados e cara de "o que estou fazendo aqui", Gal pode deixar atônitos muitos de seus fãs (o que já não é um mau começo). Mas assim que sua voz aparece em "Solitude" dá-se o fenômeno de reconhecimento imediato e natural.
A voz de Gal domina o show. As caras e olhos deixam de ter importância, mas ao mesmo tempo servem para eliminar posturas e trejeitos viciados, inaugurando uma nova visão da cantora.
Mas não é só isso. O cenário, a luz e as inevitáveis nuvens de fumaça também se beneficiam do tempero baiano. Todo o aparato teatral poderia resfriar o show não fosse a maneira como Gal se mexe, dança e pula.
Gal segue cantando "Mãe da Manhã" e o fado "Não é Desgraça Ser Pobre", que interpreta no ritmo sem precisar forçar o sotaque luso. Até este momento do show, os músicos não apareceram, escondidos atrás de uma cortina. Quando ela se levanta, o clima descontrai, o show fica mais normal e as músicas são sambas.
Mas a cortina desce de novo, para se levantar em seguida e criar outro clima que vai introduzir "Tropicália", de Caetano, e "Brasil", de Cazuza. Nestes dois cantos-manifestos, Gal não poupa caras e gestos fortes. Mas tampouco mostrou os seios, deixando a blusa apenas entreaberta, na sua primeira semana em São Paulo (esse trecho do show rendeu muitas linhas na imprensa quando de sua estréia no Rio).
Passando por "Baby", "O Amor", "Barato Total", "Vaca Profana" e "As Time Goes By", entre outras músicas, o show "O Sorriso do Gato de Alice" é assim uma sucessão de climas que se criam como numa peça de teatro.
A impecável direção musical de Jacques Morelenbaum, as excelentes performances dos músicos e a espontaneidade do canto de Gal garantem ao espetáculo sua qualidade musical. Gerald Thomas teve o mérito de conseguir interferir no "padrão-show", sem roubar do espectador o prazer de ouvir.

Show: O Sorriso do Gato de Alice
Intérprete: Gal Costa
Direção: Gerald Thomas
Regência: Jacques Morelenbaum
Roteiro: Gal Costa, Jacques Morelenbaum e Gerald Thomas
Onde: Palace (tel.011/531-4900)
Quando: quinta, às 21h30, sexta e sábado, às 22h, e domingo, às 20h
Ingresso: de R$ 15 a R$ 40

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