São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994 |
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Suspensão extemporânea Itamar Franco parece não rimar com privatização. E embora tivesse sinalizado essa posição desde que assumiu a Presidência da República, na prática o processo avançava; lentamente, mas avançava. Agora, por meio de um fax, o presidente suspendeu as últimas privatizações que se gestavam. Tudo poderia não passar de mais um episódio no anedotário político nacional ou mesmo de algo a relevar num governo ao qual restam, afinal, menos de 120 dias. A investida contra o programa de privatização, entretanto, ocorre num momento estratégico: o início de um programa difícil de estabilização, que ainda carece de mostras convincentes de que será possível obter, já no curto e médio prazos, fontes de apoio a um ajuste fiscal estrutural. A privatização traria um aporte de recursos fundamental. A corte, em alvoroço, procura emendar ou compensar a manifestação do chefe. O ministro Hargreaves quer dar a entender que o processo de privatização não foi encerrado, trata-se apenas de resolver pendências jurídicas. É claro que quaisquer suspeitas de irregularidade no processo de desestatização têm de ser apuradas –é público o patrimônio envolvido–, mas é questionável a necessidade de paralisar todo o processo para fazê-lo. Na contracorrente corre o ministro da Fazenda, consciente não apenas da importância estratégica da privatização como também do seu valor como âncora fiscal no processo de estabilização. "Lá se foram US$ 850 milhões", lamentou por sua vez o presidente do BNDES, Pérsio Arida. A falta de entusiasmo presidencial com o programa de privatização corre o risco de tornar-se, assim, um tiro no próprio pé. Não contribui em nada para fortalecer a confiança no andamento do processo de estabilização num momento em que a batalha de expectativas é absolutamente crucial. Texto Anterior: Às raízes Próximo Texto: Boi gordo na alfândega Índice |
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