São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994
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O medo de Fernando Henrique

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Numa conversa reservada com assessores, Fernando Henrique Cardoso estabeleceu como prioridade absoluta a vitória no primeiro turno. Um dos motivos: reduzir a taxa de mercado persa em torno de sua candidatura, vítima do toma-lá-dá-cá. Explico melhor.
Fernando Henrique recebe diariamente avalanche de adesões, proporcional à sua posição nas pesquisas. Nos próximos dias, será a vez de os candidatos a governador do PMDB, virando as costas para Orestes Quércia, voarem rumo aos tucanos –o primeiro da lista é Antônio Britto.
Junto com os apoios, desenha-se avalanche de pedidos por cargos. Uma negociação no segundo turno será ainda mais difícil: vai envolver bancadas parlamentares e muitos governadores já eleitos. Gente com quem o presidente terá de negociar nos próximos quatros anos.
Fernando Henrique passará por um processo de negociação, termo polido para chantagem. O interlocutor sempre pode argumentar que, sem a garantia de um lote de cargos, cruzará os braços ou, pior, apoiará o adversário.
Ele inevitavelmente será consumido por esses espinhosos diálogos, enquanto torce para a crise econômica não vitaminar eventuais possibilidades de Luiz Inácio Lula da Silva. Sem contar o "fator Itamar", capaz sempre de gerar alguma surpresa desagradável.
Sem o segundo turno, haveria mais tempo para formação da equipe para assumir no início de janeiro. Ao mesmo tempo, ele quer lançar, apoiado pelo Ministério da Fazenda, um pacote de medidas tributárias já neste semestre, aproveitando os três meses que faltam para acabar o ano.
PS – Há também um fator puramente pessoal. Fernando Henrique reclama do ritmo da campanha, que é particularmente doloroso para quem tem problemas de coluna. No mais, ele não é exatamente um apaixonado por comícios e multidões, onde se submete a um suado corredor de abraços e tapinhas nas costas.

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