São Paulo, sábado, 3 de setembro de 1994
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Governo quer "choque de oferta" para suprir consumo

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

Governo atender consumo com "choque de oferta"
Equipe estuda redução de tarifa de importação para mais produtos
O embaixador Sérgio Amaral, chefe de gabinete do ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, disse que o governo pretende dar um choque de oferta na economia com uma ampla redução das tarifas de importação.
Segundo Amaral, a equipe econômica, que está estudando quais serão os setores atingidos e o percentual dos cortes tarifários, anunciará algumas das medidas na área de importação ainda este mês.
Amaral disse que essas medidas de caráter geral de redução tarifária têm como base atender o aumento da demanda causado pelo Plano Real.
Preços
A lógica da medida consiste em ampliar a oferta de determinados produtos –os de maior procura– e, com isso, conter a alta dos preços.
"Algumas camadas da população que consumiam muito pouco passaram a consumir mais porque os salários mantêm seu valor ao longo do mês", afirmou.
Ele fez essas declarações ontem em São Paulo, depois de uma palestra sobre os dois primeiros meses da nova moeda, o real, durante reunião-almoço da Câmara de Comércio Brasil-Canadá.
Poder de compra
A equipe econômica, disse, considera que o aumento do poder de compra dos salários é um fato positivo.
Por isso, afirmou, o ministro Ricupero quer aumentar a oferta, por via da redução das alíquotas de importações.
O objetivo, disse Amaral, é permitir um maior ingresso de produtos estrangeiros, em vez de procurar conter a demanda para evitar que esse aumento de poder de compra exerça pressão de aumento dos preços.
Ele adiantou que algumas dessas medidas de aumento da concorrência externa podem entra em vigor "o mais rapidamente possível".
"A rebaixa das tarifas de importação, como estratégia do aumento da oferta, será um elemento importante da consolidação do programa de estabilização", afirmou o chefe de gabinete da Fazenda.
Ele explicou que essa "desgravação" mais abrangente não tem nada a ver com a política "tópica" de usar a redução das tarifas de importação para punir, com o aumento da concorrência externa, o aumento injustificado de preços de alguns produtos em alguns setores da economia.
Setores específicos
"Isso continuará a ser feito sempre que necessário", afirmou.
Ele disse que o governo usará "sem qualquer hesitação" a rebaixa das tarifas de importação, localizada e radical, em setores específicos em dois casos.
Em primeiro lugar para não permitir aumentos abusivos de preços e em segundo lugar para coibir tentativas de repasse de aumentos salariais para os preços.
Prioridade
O embaixador Amaral disse que, ao lado de uma redução abrangente das tarifas de importação, a prioridade da equipe econômica, até passar a pasta para o próximo governo, será a desregulamentação e desburocratização do processo de importação.
"Não adianta nada baixar tarifas e abrir o mercado se os procedimentos para importar continuarem morosos e emperrados", afirmou Amaral.
Se os procedimentos não forem mais ágeis, disse, as medidas de liberalização comercial, inclusive a entrada em vigor, em janeiro, da tarifa única do Mercosul, não terão as consequências práticas que o governo espera.

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