São Paulo, sábado, 3 de setembro de 1994
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Despudor

Despudor
NELSON DE SÁ
Da Reportagem Local
Foi um

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi um despudor. O ministro Rubens Ricupero, sem saber, fez a exposição dos baixos do poder. Não apenas do governo, mas da Globo e até dele próprio.
É por aí, por ele próprio, que devem tentar a desmoralização do que ocorreu. Na sequência pelo Jornal da Globo, anteontem, já tentavam. O editorial de Lillian Witte Fibe buscou distância do ministro, a quem repreendeu.
Sobre ele próprio, na conversa, escapou muito quanto à sua forma de atuar no papel de "ministro da Fazenda". Escapou que, no caso da inflação, "o que é bom a gente fatura, o que é ruim, esconde". Escapou que não existe nada disso de diminuir o preço da gasolina –o que ele prometeu apenas para afastar o "clima" do IPC-r.
Tudo isso e muito, muito mais vai pesar contra ele na hora de desmerecer o que falou quanto à campanha e à Globo. E não foi pouco o que falou sobre ambas.
Um exemplo, de todos talvez o mais revelador, na conversa com um jornalista da Globo. "Ele sabe disso, não é, que o grande eleitor dele hoje sou eu." No caso, "ele" é Fernando Henrique, que sabe sim quem era seu grande eleitor.
Não só Fernando Henrique, mas a Globo. A sequência do que disse o ministro, ao vivo via satélite: "Para a Rede Globo foi um achado, porque em vez de terem que dar apoio ostensivo a ele botam a mim no ar e ninguém pode dizer nada." Ninguém, é claro, do PT. "Eu estou o tempo todo no ar e ninguém pode dizer nada."
Agora não está mais. Ontem, no Jornal Nacional, já não entrou o ministro. Entrou o que falou do caso, mas sempre como desculpa, de alguém que foi repreendido.
Tudo foi editado. O caso entrou no Jornal Nacional apenas como uma denúncia de Lula, cuja frase principal foi: "É prudente esperar para ver todas as provas."
Dava a entender que não havia nada, que não havia "provas" da transmissão. A cobertura foi toda por aí. Até os dois trechos citados da denúncia petista foram aqueles que não constavam da gravação da satélite –os erros dos petistas.
E a profusão das expressões do gênero "teria dito", em referência ao ministro, denunciou no Jornal Nacional o intuito de passar a idéia de um fato sobre o qual não há nada de concreto. Sobre o qual não há provas. Não é preciso dizer que a Globo não levou ao ar as imagens originais com o ministro e seu próprio correspondente.
Para arrematar, enfim, nada melhor do que noticiar que Itamar Franco, após ouvir as desculpas de seu ministro, saiu dizendo "que considera o caso encerrado".
Tanto não está encerrado que a cobertura precisou fechar com um novo editorial, lido por um Cid Moreira cansado, triste, dizendo que a Globo é muito "isenta".

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