São Paulo, sábado, 3 de setembro de 1994
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Informação de cocheira

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Considero provável que FHC ignore ou, amortecido pelas pesquisas, não tome conhecimento da monstruosa máquina que está sendo montada para elegê-lo. Como animal político, a ele interessa o poder. Tem uma biografia que o credencia. Em muitos sentidos, é o melhor candidato, mas ameaça ser o pior presidente, um Collor metido a "light".
O páreo sucessório lembra os páreos do hipódromo. Os competidores são puros-sangue. Em dias de clássico, o páreo principal é formado por campeões, por filhos e netos de campeões. Uns três ou quatro são dignos de vencer, mas somente um deverá ser o primeiro a cruzar o disco de chegada.
É aí que entra a cobiça humana. Treinadores, produtores, apostadores, "bookmakers" –uma fauna complicada cria arapucas aqui e ali, há subornos, há toma-lá-dá-cá, doping, sabotagem– vale tudo para fazer um vencedor. Indiferente ao que se passa, o cavalo só pretende uma coisa: cumprir o seu instinto de puro-sangue, vencer.
A comparação veio quando li que um milionário brasileiro contratou um técnico americano, já testado na campanha de Clinton. A notícia fala em US$ 1 milhão, preço de mercado para esse tipo de ofício. Pode-se perguntar: quantos outros milhões de dólares dos abnegados simpatizantes da candidatura FHC não estarão rolando por aí?
Os "bookmakers" fazem um investimento de risco para, de uma forma ou outra, ganharem à custa do vencedor. Foi exatamente o que ocorreu na campanha de Collor, quando PC convenceu muita gente de que o melhor candidato, o melhor puro-sangue era o caçador de marajás. Dinheiro e votos correram para Collor com essa informação de cocheira.
Não vem ao caso saber se FHC tem ou não consciência do que está rolando no "backgroud" de sua campanha. Pedem dele apenas que vença –tal como fizeram com Collor. E FHC tem uma vantagem sobre FCM: não há nenhum irmão como Pedro Collor.

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