São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994 |
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Ang Lee tempera seus pratos com perversão
LÚCIA NAGIB
Taipei, dominada pelos telefones e a informática, é agora o luar onde as mulheres trabalham e o homem cozinha para elas. Assim vivem os personagens centrais, um pai viúvo e suas três filhas. Exímio cozinheiro, o velho pratica suas receitas sofisticadas não apenas para preencher uma necessidade vital, mas para camuflar as relações amorosas da família, montadas sobre uma rede de traições. Diante de seus pratos, as conversas obrigatoriamente se restringem à comida, enquanto, em segredo, corre solto o troca-troca sexual. Porém, por trás dessa cozinha extasiante, encontra-se uma outra, da crueldade, que escravizou a mão hoje morta e se vale de animais torturados –não por acaso mostram-se detalhes como sufocar a carpa com palitos antes de abrir seu ventre ou soprar o pato pelo pescoço como um balão antes de laqueá-lo. A volúpia da comida, retrato do egoísmo humano, se transforma desse modo na barreira que impede o conhecimento mútuo dos sentimentos e leva o velho e suas três filhas a serem o lobo de cada um. Mantendo-se fiel ao espírito da comédia, Lee impede o desfecho dramático mas não a traição maior, que é a surpresa final. Texto Anterior: Riefenstahl busca absolvição no cinema Próximo Texto: Sereias Índice |
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