São Paulo, segunda-feira, 5 de setembro de 1994
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HELEMT

JONATHAN GOLD
DA "SPIN"

HELMET
Page Hamilton, líder da banda, fala de seu amor pela música e do boom do grupo na era pós-Nirvana
Page Hamilton, o impossivelmente alto cantor, guitarrista e arquiteto do Helmet, mora em um desses apartamentos no East Village que parecem modestos para os padrões de Chicago, por exemplo, mas que são considerados luxuosos neste bairro boêmio de Nova York.
É um lugar apertado, com pôsteres de jazz na parede, uma coleção de flâmulas do San Francisco 49ers (time de futebol americano) pendurada na porta e um gato amigável que parece gostar de brincar com as guitarras largadas aqui e ali.
Prateleiras abrigam inúmeros LPs de Ornette Coleman, Miles Davis e Charlie Parker (nomes tradicionais do jazz), todos em ordem alfabética e talvez arrumados por ano.
A primeira coisa que um monte de gente sabe do Helmet é que eles assinaram um contrato em torno de US$ 23 bilhões com a Interscope e que Hamilton não tem vergonha de falar de sua coleção de discos de John Coltrane.
Mas obviamente o Helmet nem é uma banda de jazz nem um grupo rico, pelo menos por enquanto.
Para entender o Helmet, você primeiro tem que imaginar um clube de rock no dia mais quente do verão, lotado e com o volume mais alto do que qualquer coisa que você já ouviu.
A música mistura repetição minimalista com riffs de blues sincopados no meio de um compasso binário. Helmet é cerebral, mas também é físico como o inferno.
Hamilton mostra alguns de seus discos favoritos de Coltrane, vários já fora de catálogo, e segue para o quarto onde está sua coleção de guitarras –desde uma tradicional Gibson até um violão clássico dos anos 30.
Depois ele mostra um estudo analisando a harmonia do guitarrista Wes Montgomery, da época do be-bop, seu trabalho de graduação na faculdade.
"Adoro todos os aspectos da música e acho música uma forma de estímulo intelectual", diz.
"Eu gosto de ouvir Jesus Lizard (banda de rock que mistura jazz e outros elementos) e dizer 'esta é uma boa inversão do acorde ré bemol com sétima e quinta diminuta'. Acho isto interessante. A maioria das pessoas diria 'e daí'. Não os culpo."
Ele conta que uma vez, vendeu todos os seus discos de rock. "Mas chegou um ponto em que eu precisava ouvir Aerosmith, então saí e comprei um álbum usado", lembra.
Nesta época seus ouvidos não eram mais os de um garoto de 16 anos. "Mesmo assim o som ainda era ótimo", diz Hamilton.
Há nove anos, Hamilton era estudante de jazz na Escola de Música de Manhattan, trabalhava como assistente de palco e motorista de limusine e morava em um quarto alugado no Harlem.
Depois de formado, gravou um disco e fez algumas turnês com a Band of Susans, uma das afiliadas da tradicional orquestra do compositor Glenn Branca.
Em 1989, Hamilton formou o Helmet com Peter Mengede (ex-guitarrista, substituído por Rob Echeverria). O baterista John Stanier e o baixista Henry Bogdan responderam a um anúncio de jornal.
O Helmet gravou um álbum bem-recebido pelo selo Amphetamine Reptile, viajou em turnê em uma perua fedorenta e abriu o primeiro show do Nirvana em Nova York.
Um ano depois, quando "Smells Like Teen Spirit" (hit do Nirvana) estourou, o Helmet foi a primeira banda apanhada na "Nirvanamania".
"Estávamos no carro no Canadá e ouvimos Nirvana no rádio, entre Paula Abdul e Brian Adams. Me senti como se houvesse esperança para o mundo", diz Hamilton.
"Sempre vou associar aquela música com aquela época. Era maravilhoso –eles estavam vendendo mais que Guns'n'Roses e eu odeio Guns'n'Roses", diz.
"O Helmet foi rotulado com essa coisa do 'próximo Nirvana', o que sempre foi um absurdo, mas embora nós já tivéssemos conversado com todos estes selos grandes, nosso preço teve um boom. O clima mudou com o Nirvana. Assinamos com a Interscope, a mesma gravadora de Marky Mark e Gerardo."

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