São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Só faltam os mariachis

CLÓVIS ROSSI

A saída do ministro Rubens Ricupero é incapaz de disfarçar um certo sabor a México nestas eleições. Pior: sabor a um México velho, já que o novo conseguiu, faz apenas duas semanas, realizar a primeira eleição realmente limpa de sua história.
Tem-se, de um lado, um crime eleitoral parabolicamente confessado pelo agora ex-ministro da Fazenda. De outro, tem-se a inviabilidade política e talvez legal de punir o beneficiário do crime, o senador Fernando Henrique Cardoso.
Primeiro, vai ser difícil provar cumplicidade de FHC na maracutaia em que se engajou Ricupero.
Mesmo que se prove algo sobre uma eventual cumplicidade, é inimaginável a cassação da candidatura Fernando Henrique. Primeiro, porque traumatizaria uma fatia, hoje majoritária, do eleitorado.
Segundo, porque, do ponto de vista estritamente político, a punição pode ser maior do que o crime. Parece evidente que FHC chegou à iminência da vitória empurrado de um lado pela paternidade do Plano Real (o que é absolutamente legítimo) e, de outro, pela desabusada propaganda feita pelo governo.
O difícil é saber-se se o legítimo pesou mais do que o abusivo ou vice-versa. Neste espaço, já se disse várias vezes que a estabilidade econômica tem uma efeito eleitoral inestimável. Independe, aliás, do volume de propaganda que o governo por ela responsável vier a fazer.
Ainda assim, é evidente que o episódio Ricupero dá certa legitimidade às queixas da oposição, que, até então, soavam mais como o clássico resmungo dos perdedores.
Vai permanecer latente, portanto, um certo ar do velho México, no qual nunca se sabia direito se o eterno PRI (Partido Revolucionário Institucional) ganhava em função só das fraudes ou porque teria mais votos com ou sem elas.
Desse ponto de vista, a indicação de Ciro Gomes não ajuda em nada. Ao contrário. Se um não-tucano como Ricupero fez o que fez, um tucano de carteirinha só pode merecer mais desconfiança, justa ou injustamente.

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