São Paulo, quarta-feira, 7 de setembro de 1994
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Para FHC, Lula hoje é uma 'farsa'

FERNANDO DE BARROS E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato à Presidência pela coligação PSDB–PFL-PTB, Fernando Henrique Cardoso, disse ontem que seu maior adversário, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), representa hoje "uma farsa".
"Eles querem pensar que nós estamos em 89. Não adianta. Não estamos em 89. O Lula de agora não é o Lula daquela época e eu não sou o Fernando Collor. Estão querendo fazer uma farsa. A farsa está do outro lado desta vez".
A declaração foi feita de manhã à Folha, na saída da sessão de acupuntura a que o tucano se submete regularmente para tratar de um problema de hérnia de disco.
"Tenho pena do Lula. Vejo-o como um grande líder sindical que está se desfigurando como se fosse um político comum. Virou político. Fazendo gritaria, dizendo coisas que não são verdade", disse.
Aparentando calma, que perderia horas mais tarde ao ser insistentemente perguntado sobre o uso da máquina do governo federal em benefício de sua candidatura, FHC falou como candidato-sociólogo.
"Houve uma derrota de concepção do que é o Brasil. De como é que muda o Brasil. Além disso houve uma derrota política. Eles ficaram realmente na contramão da história", disse sobre o PT.
Apesar de insistir que ainda não ganhou nada, FHC dá sinais de que já fala como presidente.
"A primeira tentativa que eu fiz de dialogar com o Lula, quando eu ainda estava lá embaixo nas pesquisas, ele deu uma resposta muito negativa. Não quero agora receber outra resposta eleitoreira, mesmo porque ainda não ganhei", disse FHC, referindo-se aos rumores de que convidaria petistas para participar de seu suposto governo.
O tucano qualificou como "golpismo" a tentativa de seus adversários de impugnar sua candidatura em função da confissão do ex-ministro Rubens Ricupero de que estaria ajudando sua candidatura.
"Isso de quererem (Lula, Brizola e Quércia) impugnar minha candidatura é puro golpismo. Parece a velha UDN, mas de subúrbio. É uma UDN suburbana", disse.
A UDN, partido criado em 1946 e extinto em 1965, ficou conhecida pelas sucessivas participações em movimentos golpistas. Seu principal líder foi Carlos Lacerda, ex-governador da Guanabara.
Comentando o episódio Ricupero, o tucano foi ambíguo. "Se houve armação, a Globo teria armado com o Lula e não comigo. Não houve armação, mas se houve foi com o Lula", disse.
Mais tarde, ao voltar ao assunto, disse que a união de Lula e Brizola contra sua candidatura denota o "desespero" dos náufragos.
"Essa é a união do desespero. Sabe quando um está se afogando e quer pegar no outro que também está afogado? Afoga junto", disse.

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