São Paulo, quarta-feira, 7 de setembro de 1994
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Hipocrisia derruba ministro da Fazenda

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Depois da cassação de Ibsen Pinheiro, o Brasil deveria ter aprendido a lição. Não é prudente confiar em carolas dados ao exibicionismo.
Mas pe-pe-peraí. Que história é essa de o país inteiro se imbuir de doses cavalares de vitorianismo para julgar um simples bate-papo do ex-ministro Rubens Ricupero non si ricupera mai piú? Deus me livre! Parece coisa de solteirona mal traçada!
Nunca fui muito com os cornos de gente como Ricupero non si ricupera mai piú, que se deixa fotografar na missa com a hóstia grudada no céu da boca e só aparece diante das câmeras depois de colocar uma máscara desenhada com a cara de Joana D'Arc aos pés da fogueira.
Mas, convenhamos, o homem não disse nada de mais. Qual a razão para tanto auê? Nos últimos dias, no cabeleireiro, no clube, na churrascaria Rodeio, não ouvi nenhum comentário a respeito do episódio que não fosse recheado de julgamentos morais dos mais rigorosos.
Que eu saiba, Ricupero non si ricupera mai piú não falou nada que você, eu ou Madre Teresa de Calcutá não falem.
E não me venha você, ó probo leitor, dizer que também não tenta esconder o que tem de ruim e mostrar só o que tem de bom. No seu emprego, você, ó correto leitor, não procura defender os interesses de sua empresa por acreditar que estão de acordo com seus parâmetros morais?
Por acaso, você, ó (com o perdão da palavra) reto leitor, também não adoraria ser enviado pelo patrão para ocupar um posto em Roma, onde a vida é bem mais mansa do que aqui?
O que é que o ex-ministro Ricupero non si ricupera mai piú disse que você, ó judicioso leitor, nunca disse ou pensou? Que, em dadas circunstâncias, há que se perder certos escrúpulos? E quem foi que disse que o ministro da Fazenda do Brasil pode se dar o luxo de ser o bastião da delicadeza de caráter?
Não há uma única frase na conversa com o repórter da TV Globo que desabone o ex-ministro Ricupero non si ricupera mai piú. Nem mesmo quando ele diz que não estaria fazendo nada no domingo e se oferece para dar uma canja no "Fantástico".
Afinal, quem de nós, ó honestíssimo leitor, não tem aspirações de se sentir, nem que seja só por uns minutinhos, a Valéria Monteiro?

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