São Paulo, quarta-feira, 7 de setembro de 1994
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Irlanda recebe líder do Sinn Fein

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

O premiê da Irlanda, Albert Reynolds, recebeu ontem em Dublin o líder do Sinn Fein, Gerry Adams, encerrando o ostracismo político do partido norte-irlandês ligado ao grupo terrorista IRA.
O Exército Republicano Irlandês, católico, defende o fim da soberania britânica na Irlanda do Norte.
O encontro ocorre seis dias depois de o IRA ter anunciado o fim de suas atividades terroristas, o que permitiria ao Sinn Fein (braço político do grupo) participar do debate sobre o futuro da Irlanda do Norte com Londres e Dublin.
Mas o governo britânico, pressionado pela maioria protestante (56%) da Irlanda do Norte, quer que o IRA deixe claro que o cessar-fogo é permanente antes de iniciar negociações.
A Irlanda (católica) acha que o IRA já deixou isso claro. Ontem, em comunicado após o histórico encontro, Adams, Reynolds e John Hume (outro importante líder nacionalista norte-irlandês) afirmaram: "Estamos no começo de uma nova era na qual todos nós estamos comprometidos total e resolutamente com métodos democráticos e pacíficos para resolver nossos problemas políticos".
Questionado se não estaria sendo muito apressado em apertar a mão de Adams, Reynolds disse que "nunca é cedo demais para salvar vidas".
Em Londres, o primeiro-ministro britânico, John Major, teve um conturbado e rápido encontro com o líder protestante norte-irlandês Ian Paisley.
A reunião foi interrompida pelo premiê após Paisley ter se recusado a dizer que acreditava em sua palavra.
Major vem repetindo que o governo britânico não fez nenhuma concessão secreta para o IRA declarar o cessar-fogo.
Segundo ele, qualquer mudança no status constitucional da Irlanda do Norte terá de ser aprovada em referendo por seus habitantes.
Apesar dessas afirmações, não foi possível dissipar o medo dos protestantes de uma futura unificação das Irlandas.
No encontro de ontem, Paisley começou a ler uma extensa explanação de sua posição quando foi interrompido por Major, que perguntou se o líder protestante acreditava em sua palavra.
Após Paisley dizer que não, Major se levantou e pediu que ele só voltasse ao seu gabinete quando acreditasse nele.
Na saída do encontro, Paisley disse que nunca nenhum político em negociação com o governo tinha recebido uma pergunta como aquela e que boa parte dos deputados britânicos desconfia da palavra do governo.
Os encontros de ontem aumentaram ainda mais o isolamento da liderança protestante norte-irlandesa e a pressão para que Major aceite as garantias de Dublin e do Sinn Fein de que o cessar-fogo do IRA é permanente.
Eles também abrem caminho para negociações que podem encerrar um conflito que matou cerca de 3.200 pessoas desde 1969.

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