São Paulo, quarta-feira, 7 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uma ilha chamada Fidel

O maciço êxodo de cubanos em direção a Miami expõe uma crise que há tempos estava latente. Trata-se de uma situação insustentável e que põe em xeque as posições históricas de Cuba e dos EUA.
A falência da economia cubana só acentuou o desmoronamento do regime político de Fidel Castro, intolerável como toda ditadura. Esse desmoronamento leva o ditador a procurar o diálogo com os EUA.
Mas a conversação esbarra no fato de que os dois interlocutores parecem prisioneiros de uma controvérsia histórica alimentada durante a Guerra Fria. Os vitoriosos nessa questão, é mais do que evidente, foram os EUA, a democracia e a economia de mercado. O desafio que a crise atual traz é o de como fazer a transição na ilha: se humilhando até o fim o inimigo vencido ou permitindo uma saída honrosa.
Mais de três décadas de acirrada disputa ideológica e conflitos entre as duas nações criaram uma rivalidade com matizes irracionais.
Prova-o o fato de que os EUA não tratam Cuba do modo como lidam com os regimes comunistas remanescentes (China e Coréia do Norte, por exemplo). Da mesma forma, os comunistas cubanos não reagem, ante a crise, como o fizeram alguns de seus antigos parceiros europeus, que, na iminência do fracasso, preferiram reciclar-se.
Castro parece levar às últimas consequências o slogan "pátria ou morte, venceremos". Não vencerá. E não é justo que empurre à morte os cubanos desesperados que desafiam o mar em embarcações débeis, na tentativa de chegar aos EUA, ou condenar os que ficam às inumanas condições em que se encontram.
Um mínimo de racionalidade pede que sejam enfrentadas sem tabus as questões fundamentais em jogo: a democratização do país e o fim do bloqueio norte-americano. Que se discuta a questão não só pelo lado ideológico, mas também pelo humanitário.

Texto Anterior: Sinal amarelo
Próximo Texto: Livre negociação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.