São Paulo, quarta-feira, 7 de setembro de 1994
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O Haiti é no Jardim Botânico

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Se captasse em seu exílio francês a Rede Globo, Baby Doc morreria de inveja. Tivesse ele uma rede de televisão capaz de tantas manipulações, talvez estivesse no poder até hoje. Talvez para sempre.
A última da Globo é fantástica, conforme relatou Nelson de Sá em sua coluna de ontem. Uma das "versões" para o episódio Ricupero, divulgada mesmo sendo considerada "suposição absurda" pelo principal telejornal da Rede, é a seguinte:
"(O vazamento) seria parte de uma grande manobra destinada a ajudar o candidato do Partido dos Trabalhadores".
É de fato uma suposição incrivelmente absurda. Afinal, o incidente só houve porque Ricupero falou o que quis. Ninguém o pressionou, ninguém fez perguntas, ninguém o induziu ou torturou. A menos que se suponha que Ricupero é um eleitor enrustido de Lula, que se arrependeu depois de ter feito o que chamou de "propaganda indireta" de FHC e resolveu dinamitar parabolicamente a sua própria obra.
Ora, se é uma "suposição absurda" por que divulgá-la, com aquele ar de inocência com que a Globo perpetra outros absurdos? Para confundir, para deixar no ar uma suspeita, para desviar as atenções de seu conluio com as autoridades de plantão, sejam quais forem as autoridades de plantão.
Em favor da Globo, diga-se que ela é coerente. Apoiou todos os planos econômicos anteriores, como apóia o atual. Pena que não explique nunca por que não deu certo plano algum dos que apoiou tão entusiasmadamente.
Diga-se também em favor da Globo que sua qualidade técnica é indiscutível. Que seu time de jornalistas, tirando dois ou três que são mais governistas do que o próprio governo, seja qual for o governo, caberia em qualquer boa redação do país (alguns, até em boas redações do Primeiro Mundo).
Só não fazem bom jornalismo quando o viés político é insuportável, para usar a palavra mais amena que me ocorreu. Fazem, para reproduzir de novo Nelson de Sá, "contra-informação com toque de Goebbels".

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