São Paulo, quinta-feira, 8 de setembro de 1994
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Casal jeca-tatu comanda a Casa Branca

DAVID DREW ZINGG
EM SÃO PAULO

M eu candidato, o presidente Bill Clinton, não vem tendo exatamente o que se poderia descrever como um ano feliz. Apenas cerca de 36% dos eleitores da Gringolândia acham que ele está fazendo um bom trabalho –um mínimo recorde.
Ontem terminaram suas férias em Martha's Vineyard. Vocês devem se lembrar que no ano passado o Velho Turista Dave visitou esta chique ilha-esconderijo para "wasps" (americanos brancos, anglo-saxões e protestantes) poderosos, para cobrir a primeira tentativa de Bill de entrar de penetra na alta sociedade americana.
No ano passado, ele chegou a sair-se relativamente bem, graças à generosidade sóciopolítica da última grande dama do pessoal da limonada cor-de-rosa, Jacqueline Bouvier Kennedy Onassis. Jackie, que herdou a posição de grande dama do Partido Democrata da viúva de Franklin Roosevelt, Eleanor, convidou nosso homem do Arkansas para passar uma tarde velejando com ela em seu barco.
Foi um ato tão impregnado de simbolismo político que Hillary chegou a pensar que talvez fosse mesmo a primeira-dama, afinal.
Este ano as coisas não foram tão fáceis para o casal hoje conhecido entre os humoristas de plantão em Washington como "Hillbilly" (Hillary + Bill: Hillbilly, ou jeca-tatu). Martha's Vineyard é um lugarzinho caro de 37 km de extensão, frequentado pelos ricaços do sucesso americano e cuidadosamente dividido por linhas políticas.
Uma das vilas, Edgartown, é o lugar onde se acastelam os defensores conservadores do Partido Republicano. Outra vila, Chilmark, atrai os liberais. A condição de liberal bem-sucedido comporta um estranho desvio, tanto em Gringo quanto em Sambalândia. Parece que depois que uma pessoa consegue dar-se bem sendo liberal (substitua a palavra "liberal" por "oposicionista de esquerda moderada"), ela ou ele desenvolve o mesmo gosto pelas recompensas hedonistas do sucesso quanto seus "inimigos" conservadores.
Assim, encontramos em Martha's Vineyard um velho comunista como o escritor mexicano Carlos Fuentes, frequentando festas ao lado de pessoas que, teoricamente, desaprova totalmente. Você pode ir a esse retiro de milionários, dirigir-se à "drugstore" local e, em poucos minutos, dar de cara com Gabriel García Márquez. Logo depois, pode ver a princesa Di comprando um vidro de aspirinas, presumivelmente para curar um... resfriado forte.
A princesa Diana visitou Martha's Vineyard pela primeira vez depois de ouvir que Clinton havia passado dias razoavelmente calmos ali em sua primeira visita.
"Razoavelmente" é a palavra operativa. Segundo o jornal local, "The Vineyard Gazette", Clinton foi responsável pelos piores engarrafamentos da história da ilha.
Andy James, um marceneiro local, acha que sabe quem é o responsável. Ele diz que é o presidente em férias. "Eu diria que ele vale indiretamente uns 30 metros de trânsito", disse James.
Martha's Vineyard é um lugar fantástico para festas. As listas de convidados transbordam nomes que valem muito dinheiro.
Carly Simon é sempre convidada –afinal, sempre existe uma chance de ela resolver cantar uma música. Meu velho amigo William Styron, o romancista, também se transformou num assíduo frequentador de festas, agora que conseguiu controlar sua monumental depressão.
Goldie Hawn é presença constante na praia, assim como o homem-montanha austríaco, Arnie Schwarzenegger. Bianca Jagger esteve na ilha, mas o velho demônio Mick não foi visto por perto.
Para agravar os problemas de Clinton, um deprimente quase-furacão se abateu sobre a ilha e a Nova Inglaterra durante os últimos dias de sua estadia.
Clinton tirou um tempinho para inaugurar um estaleiro no vizinho Estado do Maine. Os repórteres dos jornais de Washington discutiram se, devido a seus baixos índices de popularidade, seria vantagem ou desvantagem contar com a presença do presidente, fazendo qualquer coisa que lembrasse vagamente um endosso político.
Conheço alguns daqueles repórteres de Washington. Eles trabalham duro para serem contra tudo. Se errarem em suas previsões negativas, todo mundo esquece depois. Se acertarem (o que é raro), podem afirmar orgulhosamente: "Eu disse que ia acontecer!".
Esse pessoal está felicíssimo com os baixos índices de popularidade de Clinton. Tio Dave gostaria de lembrar a eles que, no mesmo período de seu primeiro mandato presidencial, Ronald Reagan era quase tão mal-amado quanto Hillbilly. George Bush, por outro lado, era imensamente popular.
E você sabe, Joãozinho, o que acabou acontecendo com aqueles dois.
O teste
Se por acaso você estiver passando férias de verão no ano que vem e começar a imaginar quem será a nova família que alugou a casa ao lado, aqui vão algumas dicas que te ajudarão a descobrir se é a família de Bill Clinton:
1) O homem que está cortando a grama parece o vice-presidente Al Gore.
2) Acaba o estoque de batatas fritas do MacDonald's do bairro.
3) Você vê calções tamanho extragrande secando no varal.
4) Os hambúrgueres da geladeira desaparecem misteriosamente, mas em seu lugar aparece um conjunto de medalhas presidenciais.
5) O vento traz uma pilha de papel rasgado para teu próprio gramado. Parece ser um texto intitulado "Uma Nova Política Externa para Cuba e Haiti".
6) O anão que enfeita o jardim da casa vizinha tem uma estranha semelhança com Warren Christopher, o ministro americano das Relações Exteriores.
7) A placa da picape estacionada na garagem do vizinho é "Hillbilly - I".
Quem manda?
Algumas cidades civilizadas, como Londres e Nova York, obrigam os donos de cães a recolherem os cocôs deles (os cães) das ruas e darem algum tipo de fim neles (os cocôs).
Jerry Seinfield, um dos meus comediantes favoritos da Gringolândia, observou que um marciano que visse um homem na Terra passeando com seu cachorro e recolhendo os cocôs que este depositasse no caminho poderia facilmente ser levado a uma interpretação errônea da relação existente entre as duas espécies.
Matança extrema
A paz está brotando por todo o Oriente Médio. Isso é bom.
Um rabino e químico de Rehovot, Israel, criou uma bala que todo muçulmano evita a todo custo: ela contém banha de porco. Os muçulmanos acreditam que qualquer contato com carne de porco priva a alma da chance de chegar ao paraíso.
O rabino espera vender sua invenção infernal ao Pentágono. Ele diz que tirou sua idéia original daqueles terríveis soldados gringos que invadiram as Filipinas, muito tempo atrás. Os norte-americanos desmoralizavam seus adversários muçulmanos enterrando seus mortos embrulhados em couro de porco.
Foi uma tática semelhante ao método recomendado para se matar vampiros: "Mate-os. Mate-os ao extremo".
Tradução de Clara Allain

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