São Paulo, quinta-feira, 8 de setembro de 1994
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Vilas mostram lado produtivo do país

MANOEL DIRCEU MARTINS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O Parque Nacional Ruwenzori fica a cerca de 450 km a oeste da capital Campala, onde desembarcam os turistas que chegam a Uganda.
Viajar até lá utilizando meios de transporte públicos, com paradas nos vilarejos de Fort Portal e Kasese, pode ser uma boa alternativa aos pacotes de excursão das agências de turismo da capital.
Fort Portal, a 280 km de Campala, centraliza uma das principais regiões produtoras de chá do país, a mais de 1.500 metros de altitude.
A paisagem das "terras altas" é dominada pelas intermináveis fileiras de arbustos verdes ("thea sinensis"), pontuada pelos telhados vermelhos das sedes das fazendas.
Os campos cultivados de Fort Portal mostram o lado produtivo da África, distante das imagens vinculadas a guerras e miséria.
Os ugandenses colhem mais de 100 mil toneladas de chá por ano, o terceiro produto de exportação do país, após o café e o algodão.
A 50 km da entrada principal do parque, Kasese é a última estação para quem quer escalar as montanhas da fronteira com o Zaire.
O vilarejo fica ao pé do maciço de Ruwenzori, também conhecido como "montanhas da lua", que possui dez picos, os mais altos acima de 5.000 metros.
As construções de madeira e as varandas protegendo a fachada das casas do sol do meio dia dão um ar de faroeste a Kasese. Ali termina os 400 km da "Uganda Railways", a estrada de ferro que vem de Campala.
O Hotel Margherita, sempre guardado pelas cegonhas marabus pousadas em seu teto, é o principal ponto de referência do vilarejo.
A viagem por conta própria ao oeste permite, além de custos mais baixos, um contato próximo com o cotidiano dos moradores.
O meio de transporte mais aconselhável para o trajeto são as peruas de aluguel, conhecidas em todo o leste africano como "matatus". Elas possuem estações próprias em todas as cidadezinhas à beira das estradas.
Apesar de transportarem frequentemente mais do que os 14 passageiros permitidos por lei, os "matatus" são bem-equipados em termos de segurança e mais rápidos que os ônibus e trens.
Parques nacionais
Uganda possui seis parques nacionais e duas reservas animais. A área sob proteção ambiental, de aproximadamente 15 mil km 2, corresponde a mais de 6% de seu território de 240 mil km2.
Muita gente se engana ao pensar que a preocupação com a natureza foi introduzida na África pelos colonizadores europeus.
Antes de chegarem, países como a própria Uganda, Quênia e Tanzânia já tinham áreas reservadas aos animais e à vegetação.
Desde muito antes da consciência ecológica ganhar força nos países industrializados, os nativos do leste africano se abstinham de caçar e colher lenha em determinadas áreas, guardadas em respeito aos mortos das tribos.
Nesses santuários, o privilégio do silêncio e da intangibilidade se estendia inclusive às plantas. As árvores dos campos sagrados de Chewa e Mangania, na República do Malauí, são até hoje protegidas até mesmo da ação de grandes mamíferos, como búfalos e elefantes.
Formando um verdadeiro paraíso aos pássaros e animais menores, elas dão uma boa idéia de como seria a vegetação do leste africano sem a presença do homem.
Sem a proteção das leis e verbas para a fiscalização dos parques, muitas espécies já em risco de extinção desapareceriam ainda nos próximos cinco anos.
A caça como esporte ou para a extração de peles, marfim e chifres continua sendo grande ameaça aos elefantes, rinocerontes e felinos. Com um agravante: quanto mais rara uma espécie, mais alto o seu preço no mercado internacional.
Um rinoceronte vivo chega a custar US$ 30 mil, dinheiro suficiente para compensar o risco da ação dos contrabandistas.

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