São Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1994
Próximo Texto | Índice

O futuro do PT

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Erramos: 09/09/94

Nesta coluna, onde se lê "se for bem no governo, o PSDB fará o próximo presidente, em 1988", o correto é 1998.
Desde o início da campanha, Fernando Henrique tentou, por três vezes, manter contato com Lula. Não conseguiu.
O candidato tucano queria propor um acordo ao adversário. Desejava sugerir a Lula que a campanha fosse mantida em nível elevado.
Fernando Henrique acha que PT e PSDB são como dois parentes. Por mais que briguem, os partidos têm certa identidade de propósitos.
Por isso queria manter desobstruídos os dutos de comunicação que uniam uma legenda a outra. Segundo a sua interpretração, se vencesse a eleição, o PSDB precisaria do PT. E vice-versa.
Logo que deixou o Ministério da Fazenda, Fernando Henrique fez a primeira tentativa. Queria encontrar-se com Lula.
Pediu ao amigo Sérgio Motta que conversasse com Marco Aurélio Garcia, secretário de assuntos internacionais do PT.
Feito o contato, Motta ficou aguardando um retorno que não veio. No curso da campanha, Fernando Henrique tentou novamente.
Em certa oportunidade, telefonou direto para Lula. Deparou com algo que julgava impossível. O candidato do PT não o atendeu. Nem deu retorno.
Noutra ocasião, Fernando Henrique telefonou novamente. Nada. Pela segunda vez foi ignorado. Conseguiu falar com Aloizio Mercadante.
Fernando Henrique cultivava uma intenção onírica. Algo que só revelava nos mais íntimos diálogos. Se eleito, dizia, não hesitaria em guindar alguns petistas à condição de ministros.
Hoje, rumina a sensação de que a possibilidade de colaboração entre os dois partidos pode estar sendo sepultada por Lula.
Chega a classificar de "inconsequente" o comportamento de seu adversário. Está irritado com os ataques que vem recebendo.
Uma eventual vitória de Fernando Henrique pode empurrar o PT para uma espécie de gueto da política brasileira, reservado a partidos que, como o PPS (antigo partidão), inexistem como opção de poder.
O distanciamento do PSDB, seu parente por afinidade no cenário político, deixa o PT diante da contingência de fazer oposição a um eventual governo de Fernando Henrique.
Importante do ponto de vista institucional, a oposição do PT não garante o futuro eleitoral da legenda.
Se for bem no governo, o PSDB fará o próximo presidente, em 1988. E certamente não será Lula.
Mas ainda que vá mal, o futuro do PT será tão incerto quanto na eleição atual, em que o partido imaginava credenciar-se ao Planalto como o anti-Collor.

Próximo Texto: Ciro pagou viagens de tucanos a convenção com dinheiro público
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.