São Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1994
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Força de "A Fuga" vem de Kim Basinger

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Filme: A Fuga (The Getaway)
Produção: EUA, 1994, 115 min.
Direção: Roger Donaldson
Elenco: Alec Baldwin, Kim Basinger, Michael Madsen, James Woods
Onde: a partir de hoje nos cines Bristol, Iguatemi, Ibirapuera 1, Morumbi 2, Calcenter; desde quarta no Marabá

Em 1973, "Os Implacáveis" de Sam Peckinpah fez barulho ao trazer para a tela a história do casal de bandidos McCoy. Peckinpah tinha uma personalidade que falta a Roger Donaldson, e é bom o espectador se conformar com isso desde o início.
É verdade que Walter Hill, roteirista do primeiro filme, volta a se responsabilizar pela adaptação do romance de Jim Thompson. É verdade também que a nova versão garante a diversão.
O enredo diz respeito a Doc McCoy (Alec Baldwin), gângster pilhado em uma armadilha após livrar um bandido da cadeia e levá-lo para o México. Abandonado pelo suposto amigo Rudy Travis (Michael Madsen), ele acaba numa prisão.
Após um ano, sua mulher, Carol (Kim Basinger) dispõe-se a procurar Jack Benyon (James Woods), homem de negócios com poder bastante para tirá-lo da prisão. Doc havia sido condenado à bagatela de 20 anos. Benyon topa o negócio, mas em contrapartida quer duas coisas. Uma, mais simples, é que Doc comande um grande assalto; a outra, mais dramática, é que Carol transe com ele.
As decorrências dessas duas decisões determinarão, em linhas gerais, o que ocorre em "A Fuga".
Mas o setor aventura não é, em definitivo, o que funciona como apoio para o filme. Os McCoys constituem um desses fabulosos casais malditos que o cinema americano sabe criar: Bonnie e Clyde (do filme de Arthur Penn, de 1967), ou os jovens de "Amarga Esperança" (trabalho de estréia de Nicholas Ray, de 1948).
"A Fuga" tem esses mesmos elementos: McCoy é um derrotado, um desses caras que não dão certo na vida, a quem a vitória e a felicidade tendem a escapar no último instante. Seu talento é para roubar. Não compreende que a sociedade, tanto quanto a sorte, conspira contra seus desígnios.
Todas essas sugestões permanecem um tanto inexploradas em "A Fuga". O mesmo se pode dizer de Jack Benyon: já que é para ser um canalha, por que não um canalha sedutor? Por que ele deve se aproximar de Carol com uma chantagem sórdida (do tipo transa comigo ou seu marido fica na cadeia)?
Detalhes como esse diminuem a consistência do filme: em vez de explorar a história entre Doc e Carol como um caso de amor louco, dando-lhe a devida dimensão erótica, a ênfase vai para o lado familiar da questão.
O problema cresce um pouco quando se trata de Alec Baldwin. Seu grande mérito como ator é possuir um rosto naturalmente ambíguo. Isso não vem ao caso, neste papel, e sua superficialidade fica mais clara.
Tudo pesa, assim, sobre os ombros de Kim Basinger. Belos ombros, diga-se de passagem, e capazes de aguentar a carga. Ela faz uma Carol comovente, lutadora, companheira, forte e frágil –conforme a ocasião. É no seu olhar que repousa o que o filme tem de mais forte, onde se pode perceber a existência de seres vivos e não de figuras imaginárias que estão lá para servir às convenções do roteiro. É algo a creditar tanto à atriz como ao diretor.
Mas há algo de inesperado e especial nela, neste filme: Kim está ficando muito parecida com Rita Hayworth. Um mérito lateral, com certeza, mas de modo algum secundário.

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