São Paulo, sexta-feira, 9 de setembro de 1994
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Dinheiro domina debate no Cairo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Dinheiro passou a ser o assunto principal no quarto dia da Conferência Internacional Sobre População e Desenvolvimento da ONU que se realiza no Cairo, Egito. Várias delegações passaram o dia de ontem discutindo se há dinheiro suficiente para o plano de ação que se discute, se o dinheiro está sendo bem empregado ou se a divisão da conta entre países ricos e pobres está bem feita.
Depois de ser acusado de "sequestrar" a conferência por causa de sua oposição ao aborto, o Vaticano foi quem lançou o novo assunto. Uma nota da Igreja diz que a conferência se dedica retoricamente ao desenvolvimento e educação mas só destina dinheiro ao controle de natalidade.
Segundo o Vaticano, o texto da conferência destina de US$ 10 bilhões a US$ 20 bilhões a programas de planejamento familiar, 65% dos quais seriam gastos com instalação de infraestrutura. "Consideramos esse um uso de recursos insensato e ineficiente", diz a nota assinada por Joaquín Navarro-Vals, porta-voz do Vaticano.
A Noruega se disse contra a alocação de mais recursos a programas de controle de natalidade do que a programas de "saúde reprodutiva num sentido mais amplo".
O Banco Mundial expressou dúvidas sobre a quantia de US$ 17 bilhões de dólares defendida na conferência como meta para programas de planejamento familiar no ano 2000. Segundo representantes do banco na conferência, não é possível levantar essa quantia só para esse fim.
O documento discutido no Cairo estabelece ainda que dois terços dos gastos com a implementação do plano caberá aos países do Terceiro Mundo. O restante será pago pelos países ricos.
Segundo o especialista em demografia Joe Speidel, da Organização Population Action, os países ricos precisam quintuplicar suas doações para atingir esse patamar.
EUA, Japão e Europa destinam pouco mais de US$ 1 bilhão por ano a projetos ligados ao controle populacional. Speidel disse que só a Noruega atinge as metas previstas de aplicar 4% de seus programas de ajuda ao assunto.
Os EUA e a União Européia, respondendo a críticas de que o Terceiro Mundo não pode pagar os dois terços que lhe caberão, sugeriram cortes nos gastos militares. "Temos que fazer os países subsaarianos mudar suas prioridades. Uma grande soma de dinheiro é gasta em equipamento militar inútil", disse Tim Wirth, dos EUA.

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