São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Eleição folgada deixa o mercado calmo

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

O mercado financeiro ainda poderá agitar-se nesses 15 dias úteis que faltam para o primeiro turno das eleições presidenciais, mas dificilmente eventuais turbulências irão refletir ameaças à candidatura de Fernando Henrique Cardoso.
Na área política, há dois fatores que podem tirar o sossego dos operadores: 1) as tentativas dos adversários de impugnar a candidatura de FHC; 2) o candidato do PMDB, Orestes Quércia, diz ter um dossiê contendo denúncias de irregularidades praticadas por Ciro Gomes no governo do Ceará.
Na área econômica, teme-se o estilo personalista do novo ministro da Fazenda na condução de eventuais ajustes ao Plano Real. Mas as instituições encerraram a semana otimistas.
A maioria das pesquisas feitas após a demissão de Ricupero informou o que todo mercado queria ouvir: a vantagem de FHC continua dispensando o segundo turno.
As pesquisas conduziram ao raciocínio de que apenas o retorno da inflação poderia ameaçar a vitória de FHC. E para que os eleitores sentissem isso no bolso seria necessária a conjugação –em apenas 15 dias úteis– de fantásticas trapalhadas nas políticas cambial, monetária e fiscal. Ciro Gomes pode ser personalista e temperamental, mas não faria maluquices às vésperas do dia 3 de outubro.
O raciocínio é reforçado pela convicção de que não há, por enquanto, perspectivas de mudanças na rota declinante da inflação. Depois da febre de consumo de agosto, setembro mostra-se mais calmo. O enxugamento de liquidez promovido pelo aumento do compulsório bancário sobre depósitos a prazo torna o crédito proibitivo.
Cautelosamente, o Banco Central vem impedindo queda nas taxas de juros. Ele nem respeitou o tabelamento do over em 5,25% até o dia 8 que impôs no dia 1º e elevou a taxa para 5,36%.
E promete juro real confortável este mês, entre 1,6% e 2%. O over-selic projeta para o mês uma rentabilidade acumulada de 3,81% e juro real de 1,67% sobre a expectativa de IPC-r, 2,10%, do departamento de economia da "Agência Dinheiro Vivo".
A elevação do compulsório sobre depósitos a prazo provocou deslocamento da taxa do CDI-over da do Selic. O CDI está 0,07 ponto acima do over. Isso credencia os fundos DI e as operações de compra de CDB casada com venda de contratos no DI futuro.
Embora o dinheiro tenha ficado mais escasso e, portanto, mais caro, os juros dos CDBs não refletem integralmente a alta do CDI-over. É que os bancos atacadistas não podem melhorar a captação de recursos por meio da oferta de juros mais elevados.
Será um mau negócio pagar pelo CDB um juro maior que o do Selic, já que 30% da captação serão remunerados pelo Banco Central apenas pela variação dos títulos públicos. Somente os bancos de rede podem manter a captação sem prejuízos.

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