São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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Amor, misticismo e guerra na era do rei Artur

LUIS S. KRAUSZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Existe, na história da literatura e das artes no Ocidente, um número de heróis que se tornaram clássicos. Seus feitos foram narrados e reelaborados por gerações de artistas que, acrescentando-lhes suas interpretações pessoais, foram criando, ao longo dos séculos, um riquíssimo acervo de lendas e episódios.
No mais das vezes estes heróis míticos tem sua origem em homens de historicidade comprovada, enquanto que as fábulas criadas em torno deles decorrem de que, até há poucos séculos, as duas concepções da palavra "história" (no sentido "histórico" e "literário") fundiam-se na arte dos poetas orais e menestréis. O tecido da narrativa destes profissionais incluía tanto feitos comprováveis quanto aqueles ditados por uma imaginação impregnada de crenças e valores religiosos.
Por mais de mil anos, desde o século 6º até os séculos 18 e 19, o rei Artur foi assunto para historiadores e bardos, pintores e escultores. De origem celta, criou-se em torno dele, na Inglaterra e na França, um riquíssimo acervo de lendas, poemas e objetos de arte, que se difundiu amplamente, chegando, na Idade Média, a terras tão distantes quanto a Ásia e o Egito.
Talvez seja o exemplo mais conhecido de mito medieval que cumpriu, em seu tempo, um papel fundamental na estruturação de valores políticos, psíquicos e sociais, e cujo significado simbólico permanece vivo até hoje. Trata-se, nas palavras de A. L. Rowse, da "principal e última contribuição dos celtas para a mente e a literatura da Europa".
Este livro de Elizabeth Jenkins, de 1975, propõe-se a traçar, de maneira sumária porém abrangente, a trajetória do mito arturiano, mostrando sua gradativa cristalização, conforme vão-lhe sendo incorporadas adições de várias gerações de poetas e escritores. Relata também os vários papéis que o mito desempenhou em diferentes períodos, especialmente como inspiração para movimentos políticos.
O fio condutor do livro são as aparições de Artur em textos e documentos, abundantemente ilustradas com reproduções de iluminuras, afrescos, quadros e gravuras da época. Em torno destas aparições, a autora vai tecendo uma série de considerações de caráter histórico e antropológico, oferecendo-nos um panorama não só de todo o ciclo arturiano, mas também do próprio mundo medieval, com seus ideais de guerra e amor cortês, suas batalhas sangrentas e sua religiosidade fervente.
Um conhecimento prévio do tema –ainda que superficial– é recomendável e evitará que o leitor se perca em considerações e comentários, sem conhecer a lenda propriamente dita. Satisfeita esta condição, o livro é de leitura bastante fluente, retratando como um mito imortal é capaz de impregnar os dois tipos de história, e oferecendo uma infinidade de novas informações acerca do tema.

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