São Paulo, domingo, 11 de setembro de 1994
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FBI moveu para Nixon perseguição a John Lennon

PATRICK COCKBURN
DE LONDRES

The Independent
FBI moveu
para Nixon
perseguição a
John Lennon

No início dos anos 70 o FBI estava mais interessado em combater o "lennonismo" do que o leninismo. Durante o período paranóico que desembocou em Watergate, a Casa Branca de Richard Nixon mandou J. Edgar Hoover, o diretor do FBI, descobrir o máximo possível de }sujeira relativa ao ex-Beatle John Lennon.
Exatamente quando o FBI achou que estava fazendo progressos, seu tapete foi puxado porque descobriu-se que Lennon era integrante do Conselho de Abuso de Drogas do próprio presidente Nixon.
Um alto funcionário da polícia federal dos EUA queixou-se dessa suprema ironia junto a H.R. Haldeman, o chefe de gabinete de Nixon, mas prometeu intensificar a vigilância para }neutralizar o astro e fazer com que fosse deportado para o Reino Unido.
Após mais de dez anos de batalhas na Justiça, o FBI foi obrigado, sob a Lei de Liberdade de Informações, a divulgar seus arquivos mais comprometedores sobre a vigilância a que submeteu John Lennon e sua mulher, Yoko Ono.
Os relatórios mostram que Lennon estava inteiramente justificado ao dizer que era alvo de perseguição política. Na época, sua denúncia foi vista como paranóia.
O FBI, que já via Lennon com desconfiança por ele ser pacifista, eriçou-se em 1972 ao descobrir que ele havia doado US$ 75 mil a um grupo antiguerra que –acreditava o FBI– pretendia agitar a convenção republicana na qual Nixon seria indicado para a reeleição.
Os arquivos do FBI relativos a John Lennon foram encontrados por Jon Wiener, historiador da Universidade da Califórnia. Ele diz que a vigilância cerrada mantida pelo FBI sobre a casa de Lennon, no nº 105 de Bank Street, em Nova York, visava intimidá-lo.
}O FBI colocava homenzarrões de óculos escuros na rua, em frente à sua casa, disse ele. }Queria que Lennon visse um agente secreto atrás de cada caixa de correio.
A intimidação pode haver sido um dos motivos, mas os memorandos do FBI mostram que o órgão também queria pegar Lennon em flagrante, em posse de drogas, para que pudesse deportá-lo imediatamente. Um dos comunicados observava que }o escritório de Nova York (do FBI) está cobrindo a residência temporária do sujeito e está sendo instruído a intensificar as investigações discretas.
Nem todos os informantes do órgão estavam convencidos de que Lennon era politicamente sério. Cita-se uma fonte que teria dito que }em sua opinião, Lennon e sua mulher estão ultrapassados em relação à política americana.
Um informante afirmou que Jerry Rubin e Rennie Devis, conhecidos ativistas políticos, criticavam Lennon pelo uso de drogas. Para outro, Lennon era radical, mas }não dá a impressão de ser um verdadeiro revolucionário.
Em um momento o FBI em Nova York, constatando o fracasso da primeira tentativa de expulsar Lennon, repassou a Washington uma sugestão do Serviço de Imigração, de que }se Lennon fosse preso nos EUA por posse de narcóticos, aumentariam as probabilidades de ser imediatamente deportável.
Tudo isso foi ilegal. Os documentos mostram a disposição do FBI de alimentar a paranóia política da Casa Branca, que já havia lançado uma campanha para perseguir seus adversários políticos -culminando na invasão do edifício Watergate, em junho de 1972.
Tradução de Clara Allain

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