São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 1994
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PT e PSDB se acusam por greve; tucanos torciam por paralisação

DA REPORTAGEM LOCAL E DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A greve dos metatúrgicos do ABC virou mais um capítulo da disputa eleitoral entre o PSDB de Fernando Henrique Cardoso e o PT de Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, os dois candidatos deram declarações incisivas sobre o movimento.
Embora lideranças tucanas atacassem com veemência a greve, discretamente, torciam por ela. Consideram que será a "pá de cal" na candidatura Lula.
Os tucanos acham que a greve repercutirá muito mal junto ao eleitorado e a chamam de "caso Ricupero do PT".

Lula
Lula disse que o governo federal é responsável pela greve dos metalúrgicos. Ele acusou o ministro da Fazenda, Ciro Gomes, de atrapalhar um acordo que já estava fechado entre os metalúrgicos e os empresários.
Lula insinuou que o governo estaria tentando tirar proveito político da greve: "O Ciro Gomes viu que o acordo estava feito. Resolveu melar para que não se fizesse nada sem o governo. Agora vai comandar uma negociação e aparecer como o homem que garantiu o acordo".

FHC
FHC qualificou ontem a greve de "jogada política" e criticou o presidente da CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho.
"Parece que a paixão dele pelo PT é maior que a paixão pelo trabalhador", disse de manhã.
O tucano classificou como "patético" o encontro de Vicentinho com o candidato do PMDB à Presidência, Orestes Quércia, ocorrido na quinta-feira para discussão de reajuste salarial de 12%.
Foi Quércia quem procurou Vicentinho na sede da CUT.
Defendendo de forma insistente a estabilidade do real, FHC disse que a greve "é um direito do trabalhador". A seguir, fez a ressalva: "Só não sei se este direito coincide com o interesse geral da população neste momento".
"Todo mundo está vendo que essa greve é uma jogada política. Imaginem o Brasil de novo com 40% de inflação, quem é aguenta, meu Deus do céu", perguntou.
À tarde, depois de participar de um almoço com esportistas no Clube Pinheiros, na zona sul de São Paulo, FHC amenizou as críticas a Vicentinho.
"Tenho uma enorme admiração pelo Vicentinho. Acho ele um líder brilhante, mas ele está tomado pela paixão. A gente entende isso. Quem é que não tem os seus momentos de arrebatamento?", perguntou o tucano.
Lula rebateu as acusações de FHC: "O Fernando Henrique está dizendo agora o mesmo que o Geisel dizia em 78, que o Figueiredo dizia em 79 e o Maluf em 80, quando os governos reprimiam as greves", disse.
Ao atacar FHC, Lula chegou até mesmo a criticar Cuba: "Só quem não é democrático pode dizer que uma greve é política. Só há greves onde há democracia. Não há greves em Cuba ou na albânia"'.

Vicentinho
Vicentinho reagiu às declarações do candidato tucano: "Se o FHC pensou que eu ia ficar puxando o saco de empresário, usineiro e governo federal, ele se enganou. Ele vai continuar decepcionado comigo. Entre o FHC e os trabalhadores, não há dúvida que fico com os trabalhdores. De uma vez por todas, nossa greve não é política, é por salário."
Colaborou Folha ABCD
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Sobre a greve nas páginas 1-6 a 1-9

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