São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 1994
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Futebol, apenas futebol

A violência entre torcidas que se verificou no estádio de São Januário, na partida Vasco X Santos, é mais um dos muitos episódios a estimular o torcedor a não comparecer nos jogos. De quem é a culpa? Por certo essa pergunta não comporta resposta simplista.
Embora a violência no futebol tenha características próprias –como a ação das chamadas torcidas organizadas–, ela não pode ser dissociada do contexto de violência urbana crescente no mundo atual.
É difícil aceitar que as pessoas que protagonizam cenas de brutalidade nos estádios frequentem esses locais com objetivos, digamos, lúdicos. É evidente na ação de muitas torcidas organizadas uma visão distorcida de grupo, capaz de envolver todos que as compõem em um magnetismo mesmeriano, animal. Sob esse aspecto, é difícil não rememorar a tragédia perpetrada por "hooligans" ingleses na Bélgica em 85, com dezenas de mortes.
Na prática, certas torcidas comportam-se como verdadeiras gangues, capazes de intimidar e destruir –pela força covarde que a identificação de grupo cria– tudo que se pôr pela frente.
A violência deste tempo envolve frustrações e complexos por vezes insondáveis, mas não se pode pecar pela omissão. É evidente o papel decisivo que têm todos aqueles que estão ligados ao futebol na educação das torcidas. Trata-se mesmo de organizar uma gigantesca operação de desarme dos espíritos, conscientizando-os de que se trata apenas de uma prática esportiva.
Mas a violência das torcidas, por tudo que encerra de barbárie, tem que ser também firmemente reprimida pela polícia. Não podem ser aceitas ações ineficientes. Nesse aspecto, o que se verificou no estádio do Vasco domingo foi deplorável.
A "alegria do povo", lamenta-se profundamente, tornou-se –seguindo uma espécie de maré mundial de violência– um caso de segurança pública. Que as autoridades não se omitam, e que o futebol possa voltar a ser apenas futebol.

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