São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 1994 |
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Uma foto do espírito
JOSIAS DE SOUZA
Ganhar status de ministro num eventual governo tucano pode não ser um grande negócio. Esta é a impressão que salta dos estudos sobre reforma administrativa produzidos à volta do candidato. Prevê-se um considerável esvaziamento da Esplanada dos Ministérios. A idéia é podar o número de pastas e o poder de seus ocupantes. Se vingarem as teses incluídas nessa primeira fornada de propostas, Fernando Henrique será um presidente centralizador. Terá a seu lado, no Planalto, alguns superassessores. Daí a suposição de que, caso vença a eleição, seus ministros podem virar auxiliares de segunda. Planeja-se a criação de pelo menos três secretarias ligadas diretamente à Presidência: uma para temas sociais, outra voltada para a economia e a última para área política. O número de apêndices enganchados ao organograma da Presidência pode crescer. Não se descarta a hipótese de surgir uma outra secretaria, de relações exteriores. Os secretários comporiam uma espécie de conselho superior de assessoramento ao presidente. Na prática, coordenariam a ação dos ministérios. Uma das pastas que sofreria intenso esvaziamento no seu governo é a da Fazenda. O candidato acha que o gestor da chave do cofre, nos moldes atuais, manda demais. Sua convicção sustenta-se na experiência própria. Fernando Henrique fez gato e sapato de Itamar. O esquema montado pela assessoria tucana tem um defeito de origem: estimula o ambiente de briga entre os funcionários do governo. Convida à intriga. Se eleito, Fernando Henrique pode transformar Brasília numa usina de conflitos. E, neste caso, teria de remodelar o próprio perfil, de contorno conciliador. Precisaria aprender a dizer não. O parlamentarista Fernando Henrique exibe um apetite descomunal para o exercício da Presidência, sob regras presidencialistas. O candidato não repetiria hoje o gesto de 1985, quando sentou-se antes da apuração dos votos numa cadeira que as urnas entregariam a Jânio Quadros. Mas agora, como naquele ano, Fernando Henrique comporta-se, em ambientes privados, como se o espaldar da poltrona de presidente já estivesse grudado em seu costado. Se fosse possível fotografar-lhe o espírito, ele estaria refestelado no lugar de Itamar. Próximo Texto: FHC aposta na desintegração do PFL e quer apoios à esquerda e à direita Índice |
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