São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 1994
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A armadilha e a vítima

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Ciro Gomes, o ministro, agora "se diz vítima e nega que tenha atrapalhado" o acordo entre montadoras e metalúrgicos, informou o TJ Brasil, ontem.
Agora é tarde. Abriu a reação em cadeia. Já se anuncia, por exemplo, a ação das montadoras contra o governo.
Nas palavras do próprio Luiz Adelar Scheuer, o presidente do sindicato das montadoras, "ir à Justiça é um caminho".
Não são só as montadoras, ou só os petistas. Também Canindé Pegado, que é presidente da CGT, surgiu para anunciar que vem aí uma reação em cadeia.
Na CBN, no TJ, declarou que "em uma semana" já vai estar nas fábricas o que ele qualificou de "movimento nacional".
No ABC, enquanto isso, dizem os telejornais, "cresce a adesão" à greve dos metalúrgicos. Uma greve que deve durar, pelo menos, até a sexta-feira.
Quem definiu sexta-feira como o dia da próxima reunião entre as três partes foi José Milton Dallari, o assessor de Ciro.
"Eu achei lamentável a atitude do assessor do ministro", dizia o presidente do sindicato do ABC, tornado celebridade, Heiguiberto Navarro, no Rede Cidade.
Vai-se cristalizando a imagem de que primeiro a intervenção e depois a definição da data distante foram eleitorais.
Foi o que citou o Jornal da CBN, ontem, quanto à data da reunião, que garante uma semana de greve, e também de desgaste para o petista Lula.
Foi o que citou Boris Casoy, quanto à intervenção, dizendo que o petista caiu numa "armadilha política do governo".
Foi o que citou um diretor de montadora, cujo nome não foi aberto por Mônica Waldvogel, correspondente em Brasília, e que teria dito, às claras:
– A intervenção do governo é política.
Greve ilegal
Ciro Gomes, que ninguém fique com falsa impressão, não mudou em nada. Segue com a retórica do prendo-e-arrebento. E com olhos vidrados, de Collor.
Ontem, tenso, dizia ao Jornal Nacional que "ninguém entrou no real numa situação tão folgada quanto essa categoria".
Tratava dos metalúrgicos, no discurso velho. Como ele, também Marcelo Pimentel, o ministro do Trabalho, que foi logo atacando a "greve ilegal".
Fernando Henrique deve andar saudoso de Rubens Ricupero.

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