São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
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Habitação e tecnologia

IVO MENDES LIMA

Enfrentar o desafio do déficit habitacional em um país que precisa construir 12 milhões de moradias é uma tarefa particularmente difícil. Como conciliar a escassez de recursos com as necessidades de produção? Para quem construir se o custo de construção é hoje inacessível à maior parte dos assalariados?
O valor de uma unidade habitacional é alto, em parte, em função do desperdício de insumos e materiais existentes em uma obra. No Brasil, o índice de perdas na construção está em 25%, o que significa que, para cada quatro prédios construídos, seria possível erguer mais um somente com o que foi inutilizado ou mal aproveitado.
Para explicar este desperdício, muitas causas são apontadas: inadequação entre projeto e empreendimento, falta de racionalidade e gerenciamento da produção, métodos e processos inadequados, necessidade de reparos e baixa produtividade. A mão-de-obra também influi, porque, com pouca qualificação, é mal remunerada e apresenta altos índices de rotatividade e de acidentes de trabalho.
É necessário mudar esse panorama, combatendo o desperdício, racionalizando e otimizando procedimentos. Nesse contexto, o governo tem um papel fundamental e o Protech (Programa de Difusão de Tecnologia para Construção de Habitação de Baixo Custo) veio preencher essa lacuna. Um de seus principais objetivos é a implantação de pequenos núcleos de experimentação de sistemas construtivos, as vilas tecnológicas, em que a qualidade das unidades seja avaliada.
A primeira vila, entre as 13 que estão previstas, já está pronta, em Curitiba (PR). Com 120 unidades –das quais 20 são de demonstração na rua das Tecnologias–, ela reúne 20 diferentes sistemas construtivos e foi executada pela Cohab local.
As casas da Vila Tecnológica de Curitiba já estão sendo habitadas e iniciam o processo de avaliação, que permitirá identificar os sistemas construtivos que mais bem se adaptam às necessidades da região. Os estudos vão definir também as condições de habitabilidade das moradias e democratizar às empresas o acesso à certificação das tecnologias que é, hoje, demorada e onerosa.
A experiência da Vila Tecnológica de Curitiba certamente vai demonstrar que, na habitação de interesse social, que exige um conjunto integrado e complexo de tarefas, a tecnologia –um instrumento de enormes e ainda desconhecidas potencialidades– poderá desempenhar um valioso papel.
Esperamos, sinceramente, que o programa iniciado em Curitiba auxilie os formuladores da política habitacional na elaboração de planos e projetos de melhoramento do hábitat e crie uma nova realidade.

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