São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
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Desastre italiano

SÍLVIO LANCELLOTTI

Foi um desastre a estréia dos italianos nos torneios interclubes da Europa. Na Copa da Uefa, apenas o Napoli ganhou, do precaríssimo Skonto Riga da Letônia, 2 a 0, dentro de casa, um cotejo que anunciava goleada. Fora de seus domínios, só a Lazio de Roma conseguiu uma igualdade, 0 a 0 diante do fraco Dínamo de Minsk, da nova república de Belarus. Tombaram pateticamente o Parma (0 a 1 para o frágil Vitesse Arhem da Holanda) e a Juventus (2 x 3 para o ZSKA Sofia da Bulgária).
Pior ainda aconteceu com o Milan, humilhado em Amsterdã, na Holanda, 0 a 2 para o Ajax na Copa dos Campeões do Velho Continente. Time bem menos poderoso no papel, o seu ataque comandado pelo finlandês Jari Litmanen, o Ajax mereceu um marcador maior. Que aconteceu com o futebol mais organizado do planeta, o "calcio" vice-campeão do universo?
A explicação é simplérrima e valoriza o combate que os clubes da Europa hoje movem contra as suas federações. Os clubes compram os grandes jogadores, os clubes pagam os seus salários milionários – as as federações, criadoras de certames cada vez mais gordos e mais inflacionados, matam o preparo físico dos craques.
O Milan viajou dilapidado à Holanda. Do seu elenco formidável, 25 astros de primeiríssima categoria, não pode contar com a bagatela de 13. O lateral Paolo Maldini e o meio-campista Roberto Donadoni atuaram no sacrifício. O volante francês Marcel Desailly se machucou num prélio de seu país contra a pequena Eslováquia pelas eliminatórias da Eurocopa.
A Eurocopa, aliás, é um absurdo de competição, 47 nações em busca de 15 vagas para a fase decisiva na Inglaterra. Ironia, a Uefa organizou as tabelas dos interclubes, forçando as agremiações menores a uma etapa de pré-qualificação. E no entanto, ao montar o novo Euro, igualou Itália e Estônia, Alemanha e Liechtenstein, Suécia e Ilhas Far Oer, Bulgária e Azerbaijão, Holanda e Malta.
Até poucos anos atrás, os jogadores da Europa não disputavam mais de 40 ou 45 pugnas a cada temporada. Agora, perigosamente se aproximam dos recordes, claro, tristemente negativos, do futebol do Brasil –mais de 60 pelejas.
E aqui existem fanáticos a insistir, por exemplo, para o Corinthians disputar a inútil e caça-níqueis Taça da Conmebol, que nada vai acrescentar ao seu currículo além da probabilidade de atletas esfalfados, machucados ou até suspensos.

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