São Paulo, sábado, 17 de setembro de 1994
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Efeito 1985

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Itamar Franco perguntou ontem a Ciro Gomes o que achava do ritmo das eleições.
Queria saber a opinião do ministro da Fazenda sobre a possibilidade de Fernando Henrique, o candidato oficial, vencer as eleições ainda no primeiro turno.
Ciro foi franco: "Acho que é cedo para dizer." Afirmou que considera a vitória de Fernando Henrique certa. Mas não descarta a hipótese de ocorrer um segundo turno.
O comitê de campanha de Fernando Henrique detectou, em suas próprias pesquisas de opinião, uma tênue subida de Orestes Quércia e de Enéas, num movimento que interessa ao PT.
O pequeno crescimento de Quércia coincide com a pregação do candidato em favor da reposição salarial de 12%.
Quanto a Enéas, a assessoria tucana acha que ele pode estar sendo beneficiário do chamado "voto de protesto".
Baseado nos próprios números, os tucanos imaginam que Enéas pode ficar em terceiro lugar na apuração final dos votos.
Teme-se que Enéas repita o feito de Plínio Salgado, na eleição de 1955, amealhando a simpatia de mais de 5% do eleitorado brasileiro.
Naquele ano, numa eleição vencida por Juscelino Kubitschek, o ultradireitista Salgado, candidato integralista, obteve 8% dos votos.
O comando de campanha de Lula torce para que o voto anti-PT migre para os candidatos retardatários.
Os petistas avaliam que o crescimento das candidaturas anãs reduz as chances de Fernando Henrique somar metade dos votos mais um, jogando a eleição para o segundo turno.
A julgar pelos resultados das pesquisas, a candidatura de Fernando Henrique está longe de ser ameaçada.
Mesmo que não vença em turno único, dificilmente Lula teria fôlego para ultrapassá-lo na reta final.
Mas criou-se em torno de Fernando Henrique um ambiente de tal otimismo que uma passagem de Lula para o segundo turno assumiria a aparência de uma retumbante derrota do PSDB.
Desmobilizada, a máquina do PT seria azeitada no segundo turno. A famosa militância petista voltaria às ruas.
Por todas as razões, Fernando Henrique deve evitar comentários como o que fez ontem. "Acabou a campanha", disse ele, confiante, a um grupo de jornalistas.
Em 1985, quando sentou-se antecipadamente na cadeira de prefeito, a campanha também parecia liquidada. A dizer certas coisas, é melhor ficar calado.

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