São Paulo, sábado, 17 de setembro de 1994
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Biografia de Greene chega à Segunda Guerra

DA REDAÇÃO

Todas as noites o escritor inglês Graham Greene (1904-1991) pedia a Deus um encontro com sua mulher Catherine ou a morte. "Eu preferiria a primeira. Mas a segunda não seria uma má escolha."
Essa e outras revelações estão no segundo volume da biografia de Greene escrita por Norman Sherry, "The Life of Graham Greene, Volume 2: 1939-1955" (562 páginas, 20 libras), que acaba de ser lançada na Inglaterra.
Mostrando os anos do início da Segunda Guerra na Europa, o livro mostra a passagem de Greene pelo Serviço de Espionagem Britânica, um dos muitos mitos relacionados ao escritor, até um melancólico encontro com sua mulher Catherine, aos 34 anos, fumando ópio em um miserável apartamento na cidade americana de Albany, do Estado de Nova York.
Para Sherry, Graham Greene pode ser entendido como um sobrevivente, disposto a combater –e escapar– os perigos de seu tempo. Enfrentando a violência dos mau-maus no Quênia, uma explosiva missão em Haipong ou conseguindo manter seu cotidiano sob o bombardeio nazista em Londres. Menos que um herói, alguém tentando elucidar a si mesmo. Sempre através de seus atos.
Mas, se na maneira que é contada sua história, a própria vida de Graham se converte em um romance, como os personagens de seus livros "Nosso Homem em Havana" ou "Poder e Glória", a biografia permite também uma visão sobre sua intimidade. O que, no caso de Greene, quase invariavelmente se convertia na idéia de culpa.
Como sua estranha relação com seus filhos, em que não se permitia qualquer grau de intimidade, preferindo dar atenção às crianças de seus amigos. Sua desculpa? A melancolia.
O que resultou em uma guinada para o catolicismo. E uma mudança na construção de sua ficção. Mas isso certamente seria tema para um terceiro volume, já imaginado por Norman Sherry. Uma biógrafa que, segundo a crítica britânica, possui a rara habilidade de não odiar Graham Greene. Ou, no melhor dos casos, não invejá-lo.

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