São Paulo, sábado, 17 de setembro de 1994
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Brasileiros já têm esquema de proteção

SÉRGIO TEIXEIRA JR.
DA REDAÇÃO

Os dois brasileiros que trabalham na Embaixada do Brasil em Porto Príncipe já têm onde se refugiar no caso de uma invasão.
José Soares Jr., encarregado de negócios, disse ontem à Folha que não pode revelar o local do abrigo nem dar detalhes da segurança da embaixada e residência oficial.
"Essa informação vale 1 milhão de dólares. Alguém interessado pode estar ouvindo".
Soares, 47, diz que, além dele, há outros cinco brasileiros no país: o funcionário diplomático Sílvio da Cunha Batista e quatro irmãs da Comunidade do Imaculado Coração de Maria.
Folha - Há um esquema de segurança para os brasileiros que estão no Haiti?
Soares - Sim, todas as embaixadas de porte médio se organizaram conjuntamente, por precaução. Há um local para onde serão levados todos os chefes de missão em caso de risco pessoal.
Mas o principal dever é ficar dentro da missão diplomática. Só sairemos em caso de risco pessoal.
Folha - Como a embaixada é protegida e por quantos?
Soares - Essa informação vale um milhão de dólares (risos). Isso eu não posso dizer, porque alguém interessado pode estar ouvindo. Ela é vigiada por uma empresa que contratamos aqui. Mas é o mínimo. Cobre as necessidades.
Folha - Hoje, há quantos brasileiros no Haiti?
Soares - Que eu tenha conhecimento, seis. Eu, mais o auxiliar administrativo, duas irmãs que trabalham em Porto Príncipe e duas que trabalham em Jeremie (sul).
Elas são do grupo que trabalhava com a irmã Santina Perín, que ficou famosa aí no Brasil quando fugiu junto com os "balseiros" em julho passado.
Os outros cinco foram retirados há dois meses e meio, quando os primeiros vôos internacionais foram suspensos.
Folha - O sr. acredita em uma invasão iminente?
Soares - Achamos que há possibilidade grande, porque todos os fatores necessários foram satisfeitos. Não há outra alternativa. Os militares já disseram que não saem. Se os EUA não atacarem, será perda política.
Folha - Há informação no meio diplomático sobre a data?
Soares - Trabalhávamos basicamente com três possibilidades. A primeira já foi excluída: ontem (anteontem), quando Clinton poderia ir à TV para dizer: "Estamos invadindo". A outra é neste final de semana e, uma terceira, no meio da semana que vem.
/ping\>Folha - Qual o clima das ruas de Porto Príncipe?
Soares - O clima é de normalidade. A não ser pelo toque de recolher a partir das 19h, decretado há três dias. Não é o clima que haveria em situação de guerra, como no Líbano ou na Bósnia.
Folha - O sr. acredita que haverá resistência?
Soares - Eles não têm condições militares e estratégicas de vencer. As Forças Armadas têm armas da Guerra da Coréia (1950-53). O país será ocupado.
Mas, depois disso, eles vão chatear –há cultura de resistência. É um país montanhoso e eles vão tentar fazer isso aqui virar um Vietnã. Eles conhecem a força que mortes e gastos têm nos EUA.
Folha - As pessoas têm medo de pegar os panfletos jogados por aviões americanos?
Soares - Em locais centrais, é preciso tomar cuidado. A insegurança é total. Mas os radinhos de pilha são sendo vendidos por 25 dólares haitianos, uns US$ 4,50.
Folha - O sr. sofreu pressão por parte dos militares?
Soares - Há pressão indireta. Eles querem reconhecimento do país. Exigem uma carta formal –que significaria reconhecimento– para uma simples placa de carro diplomático. Ficamos sem.

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