São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Denúncias derrubam chefe de polícia

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Denúncias de que delegados e investigadores estão envolvidos em extorsões, tráfico de drogas, desvio de mercadorias apreendidas, roubos e até assassinato derrubaram ontem o diretor do Deic, delegado Carlos Alberto Costa, o Carioca, e o diretor da Divisão de Crimes Fazendários, delegado João Violim Belão.
As denúncias foram feitas pelo comerciante José Gonzaga Moreira, 50, o Zezinho do Ouro, que trabalhou como comprador de ouro e informante da polícia por 30 anos. Zezinho do Ouro começou a fazer as denúncias há um mês, quando entregou à Justiça um dossiê com cerca de cem páginas de documentos que comprovariam suas denúncias.
A Corregedoria do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais do Tribunal de Justiça) abriu uma sindicância e apurava sigilosamente o caso.
Ontem, o secretário da Segurança Pública, Antônio Corrêa Meyer, mandou abrir inquérito e sindicância na Corregedoria da Polícia Civil e anunciou o afastamento dos dois delegados. Segundo Meyer, Costa e Belão pediram para ser afastados.
Para o Deic foi designado o delegado Gérson Carvalho e, para a lugar de Belão, o delegado Valter Fernandes. "Outros 35 policiais poderão ser afastados", disse o delegado-geral Jorge Miguel, 59.
Histórico
Zezinho do Ouro disse que resolveu denunciar os policiais após escapar de dois atentados. "Na última vez, quatro homens montaram um tocaia em frente a minha casa. Escapei por milagre." Ele acusou o investigador Gilberto Brito, do 9º DP, de ter preparado a armadilha. "Aí, eu fui contar tudo para o juiz-corregedor."
Zezinho do Ouro diz ter começado a trabalhar como informante da Polícia Civil em 1964. "Hoje há mais policiais ladrões do que naquela época. Eles formam verdadeiras quadrilhas", disse.
Apesar de ter confessado intermediar a venda de produtos roubados, Zezinho do Ouro está solto. "Ele é um bandido, nós vamos investigar todos os crimes que porventura ele tenha cometido", disse o delegado-geral, Jorge Miguel.
Zezinho do Ouro deu, das 22h30 de anteontem à 1h de ontem, um entrevista em sua casa, quando contou 24 casos de corrupção policial e acusou cerca de 30 policiais.
Entre os casos está o do desvio de uma carga de aparelhos de som da CCE feita por policiais (leia texto abaixo).
Zezinho do Ouro disse que um informante da polícia foi torturado até a morte por um investigador devido ao desvio dessa carga. "Depois, levaram ele para um hospital e disseram que um caminhão o havia atropelado."
Leia abaixo trechos do relato feito por Zezinho do Ouro.
"Ainda não é tudo. Tenho ainda muita coisa para falar."

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