São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Kandir quer 'reengenharia' do Estado

MARCELO MENDONÇA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Antonio Kandir (PSDB), que concorre pela primeira vez a deputado federal, quer defender no Congresso uma "reengenharia" do Estado. Engenheiro com doutorado em economia, diz que "o Estado deve atuar em função do cidadão, não da burocracia".
Kandir, 41, fez carreira como economista e foi secretário de Política Econômica do governo Collor, entre 1990 e 1991.
Para ele, o uso na administração estatal dos princípios da reengenharia –teoria de reorganização de empresas privadas– é fundamental para a estabilidade e a retomada do desenvolvimento.
Eis um resumo da entrevista:

Folha - Qual será a sua prioridade se chegar à Câmara?
Antonio Kandir - Trabalhar politicamente para que o Congresso inicie, ainda em fevereiro de 95, a reforma da Constituição, com quatro objetivos fundamentais: consolidar o Plano Real, promover a reengenharia do Estado, remover obstáculos ao desenvolvimento econômico e melhorar a qualidade da representação política. Os objetivos estão ligados.
Você não consolida o plano se não fizer o que chamo de reengenharia do Estado. Ou seja, ele tem que atuar em função do interesse do cidadão, não da burocracia.
O Estado e as empresas privadas viraram estruturas paquidérmicas onde o atendimento ao cliente ou contribuinte ficou em segundo plano. A partir do interesses do cidadão, é preciso rever os procedimentos do Estado.
Folha - Como o Plano Real depende disso?
Kandir - Você só vai consolidar o plano quando o real passar a ser uma moeda confiável. Hoje o real é uma moeda forte, mas há diferença entre ser forte e ser confiável. Ela só será confiável quando a população tiver a certeza de que existe uma autoridade monetária independente. Ou seja, um Banco Central independente.
É preciso também melhorar a arrecadação com uma reforma tributária.
Folha - E sobre a representação política, como o sr. trabalharia para elevar sua qualidade?
Kandir - Voto não obrigatório, voto distrital misto, voto proporcional e fidelidade partidária são medidas básicas para se conseguir partidos mais fortes.
É fundamental reequilibrar o tamanho das bancadas estaduais na Câmara. O Senado já cumpre a função do equilíbrio federativo. Elevar essa qualidade é indispensável. Enquanto o sistema eleitoral e partidário fragilizar os partidos, as negociações entre Legislativo e Executivo vão se dar sob o signo predominante do fisiologismo.
Folha - Como restaurar a credibilidade do Congresso?
Kandir - Com resultados objetivos. Como é função do Legislativo fiscalizar o Executivo, quando este funcionar bem, o real se consolidar e se retomar o processo de desenvolvimento, é sinal que os representantes estão agindo no interesse dos representados.
Folha - Qual a maneira de fazer as reformas?
Kandir - Há três possibilidades. Primeiro, uma negociação de alto nível, que inclua o Judiciário, sobre a possibilidade de reabrir o processo da revisão, com emenda do Congresso e aprovação do STF.
Se não for possível, tentar aprovar um emendão que inclua as diversas emendas propostas. Em último caso, vou trabalhar por uma assembléia revisora exclusiva.

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