São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Geração de prata abre o caminho para o sucesso

SÉRGIO KRASELIS; CIDA SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A evolução que o vôlei brasileiro atingiu nos últimos dois anos deve seu sucesso, em grande parte, ao trabalho feito pela geração de prata.
Ao assumir em 81 o comando da seleção masculina, o técnico Bebeto de Freitas trouxe para a equipe uma série de inovações, que daria a base para o surgimento de uma escola brasileira de vôlei.
Ao apostar na versatilidade dos brasileiros, o vôlei, através de Bebeto, uniu técnica, tática e preparação física. Deu certo.
Inovações como ataques de fundo de quadra, que conduziram a uma variação de jogadas até então inexistentes no Brasil, introduziram o país na elite do vôlei.
"Na época em que fui treinador da seleção, uma das nossas preocupações foi aprimorar o bloqueio", conta Bebeto. "Sempre considerei este o nosso fundamento mais fraco. Por isso, insisti em treiná-lo com os jogadores."
Não por acaso, José Roberto Guimarães, atual técnico do time, centra fogo nos treinos dos fundamentos de bloqueio e defesa.
Em contrapartida, a geração de ouro avançou em relação ao time da década passada em várias direções. Como, por exemplo, o aumento da altura dos jogadores.
O time titular dos anos 80 –Renan, William, Montanaro, Xandó, Bernard e Amauri– tinha média de altura de 1,90 m, contra 1,96 m dos atuais titulares -Tande, Marcelo Negrão, Giovane, Paulão, Carlão e Maurício (na soma com os seis reservas, a média recua para 1,91m contra 1,95m).
Outro avanço tático foi a disposição do time na quadra. Zé Roberto inovou ao colocar o atacante Marcelo Negrão no meio-de-rede, entre Giovane e Carlão. Negrão, que nunca havia atuado como bloqueador, acabou, entre os dois jogadores, originando até uma nova posição no mundo do vôlei, o meio-de-rede-não-fixo.
A tática levou o time ao pódio olímpico e garantiu a primeira medalha de ouro para o Brasil.
Oito anos antes, na Olimpíada de Los Angeles, a seleção, apesar de nunca ter perdido para os EUA, deixou escapar a medalha na final.
Dez anos depois, William, o capitão da seleção de prata, reafirma a frase que disse logo após a derrota do Brasil para os Estados Unidos por 3 sets a 0 na final da Olimpíada de Los Angeles.
Na época, lágrimas nos olhos e vendo a festa dos americanos na quadra, ele dizia: "A nossa geração não nasceu para ser campeã".
William diz que naquela Olimpíada não havia nenhuma seleção que tivesse treinado mais ou que contasse com melhor time do que o Brasil. Nem os EUA.
"Os norte-americanos tinham uma equipe mais quadrada. O que aconteceu foi que eles marcaram bem a gente e seguiram rigorosamente uma tática. Deu certo", diz.
Renan, o jogador mais completo dos anos 80, vai além. Diz que o grupo não estava preparado psicologicamente para ser campeão.
Foi a geração de prata que fez o país do futebol descobrir o vôlei. Os ginásios começaram a lotar, os jogadores se transformaram em símbolos sexuais, o vôlei se transformou rapidamente no segundo esporte mais popular do país e o dinheiro começou a aparecer.
Tudo era novidade e o grupo teve dificuldade para lidar com fama, dinheiro e vaidades. "Começou a bater muita coisa na cabeça de todo mundo. Tínhamos que ter tido algum apoio, alguma orientação. E não tivemos", diz Renan.
Em 92, quando o time comandado por Zé Roberto iniciou a preparação para a Olimpíada de Barcelona, eles já conheciam a história. E sabiam que não poderiam repetir os erros da geração anterior.
Em Barcelona, a seleção se uniu. Havia uma disposição dos jogadores de deixarem de lado os interesses pessoais. Prova disso foi a decisão, desde a Liga Mundial de 92, de dividir o dinheiro ganho de maneira igual entre titulares, reservas e comissão técnica.
Quando chegaram à seleção, os jogadores da geração de ouro também tinham mais estrutura emocional e financeira. Já viviam uma situação profissional no vôlei, ganhavam dinheiro e eram famosos. Diferente da geração anterior.
Hoje é a geração de prata que segue atenta os passos da atual. Renan fala com empolgação sobre as novas jogadas de ataque da seleção como a bola rápida que Giovane bate do fundo da quadra.
William diz que sente saudade de jogar, mas confessa que agora um dos seus prazeres é ligar a televisão, sentar na poltrona e torcer para o time de Zé Roberto.
(SK)

Colaborou Cida Santos, free-lance para a Folha

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