São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Mulheres passaram a usar anticoncepcionais

ADELSON BARBOSA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JOÃO PESSOA

A queda da taxa de fecundidade é fundamental para o envelhecimento de uma população, segundo o estudo do Ideme.
Na avaliação do técnico em pesquisa científica e tecnológica do Ideme, Carlos Gonçalo de Oliveira, quando há redução na taxa de fecundidade, mais crianças deixam de nascer e as que existem tornam a média de idade maior.
Dados colhidos por Oliveira junto a órgãos de controle da natalidade revelam que, em 1991, 52% das mulheres nordestinas esterilizadas tinham menos de 30 anos, ou seja, estavam em idade fértil.
A dona de casa Maria do Carmo Silva, 39, faz parte do grupo de mulheres que tinha muitos filhos nas duas últimas décadas e agora reduziu sua taxa de fecundidade.
Ela teve filhos entre 1975 e 1992. Nos anos 70, foram três crianças, na década de 80, quatro, e há dois anos, mais um.
Ela afirma que ainda está em condições de ter filhos, mas não pretende mais engravidar. Só agora começou a usar pílulas anticoncepcionais.
"Eu nunca tomei comprimidos, nem nunca fiz tabela. Eu tinha um filho e passava um tempo grande para pegar outra gravidez", disse.
Maria do Carmo afirmou que também nunca programou ter a quantidade de filhos que tem hoje. "A gravidez vinha espontaneamente", disse.
Maria do Carmo mora na Ilha do Bispo, um bairro pobre de João Pessoa. Seu marido é funcionário de um abatedouro de frangos no bairro.
Seus filhos estudam em escolas municipais e estaduais. Dois trabalham com o pai.
"Estou satisfeita com os meus filhos. Não fiz operação para desligar as trompas, mas tenho fé em Deus que não vai aparecer mais. Se por acaso aparecer, será bem vindo", declarou.
Caranguejos
Cleonice Luiz Belo, 32, tem sete filhos. O mais velho tem 13 anos e o mais novo, 3.
Fez laqueadura das trompas depois que teve o último filho. "Eu nunca tomei pílula. O doutor me ligou porque eu não tenho condições de sustentar mais meninos", disse.
Cleonice mora em um barraco na beira da maré, na Ilha do Bispo. Seu marido, Cláudio Luís da Silva, trabalha como gari na Prefeitura de João Pessoa.
Ela afirmou ter colocado os filhos mais novos na escola por causa da merenda. O mais velho deixou de estudar para trabalhar em uma oficina mecânica.
"A gente só não passa fome porque quando a maré enche, os caranguejos entram dentro de casa, a gente captura e coloca no fogo", disse Cleonice.

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