São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Clinton deveria ver a "Sessão da Tarde"

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Até o presente momento, as imagens mais dramáticas da invasão do Haiti mostraram um punhado de marines tomando sol no telhado da embaixada norte-americana em Port-au-Prince e algumas mocinhas passeando de sombrinha pelas ruelas da capital haitiana.
Em outras palavras, até agora, a invasão promovida pelo presidente que fumou maconha e não tragou conseguiu ser mais anticlimática do que um inocente ataque de borrachudos sobre a Ilhabela.
O presidente Clinton tenta mostrar a seu eleitorado que não é o banana que aparenta, mas se esquece de que o fracasso de Bush nas eleições, depois de ter arrasado na Guerra do Golfo, sepultou de vez a era de heróis talhados ao estilo John Wayne.
Hoje, o único John Wayne que abafa na mídia é aquele doce rapaz de nome John Wayne Bobbitt, que teve –de forma para lá de emblemática– a poronga decepada por uma sul-americana arretada.
Mas, já que Clinton precisa armar um barraco para mostrar que sabe colocar ordem no quintal ou, quiçá, para engendrar uma operação que dê o Nobel da paz a Jimmy Carter, não seria mais eficiente que sua auto-afirmação fosse testada contra algum ditador que se preze, tipo Fidel Castro, Fujimori ou, até, Deng Xiao Ping?
Não sei, não. Toda vez que os EUA precisam, por alguma razão obscura que só eles lá conhecem, gastar a grana do contribuinte norte-americano promovendo invasões em paisecos de quinta, lembro-me da comédia "O Rato que Ruge", sucesso recorrente na "Sessão da Tarde" há mais de 20 anos.
O filme conta a história do fictício e falido ducado de Grand Fenwick. Para saldar as dívidas do reino, o ardiloso primeiro-ministro interpretado por Peter Sellers bola uma trama engenhosa: declarar guerra aos EUA com a intenção de perder e se beneficiar das generosas reparações dos americanos, como ocorreu no plano Marshall ao fim da Segunda Guerra.
Acontece que, sem saber da trama diabólica, um dos generais de Grand Fenwick, também interpretado por Peter Sellers, consegue pôr os americanos para correr.
Em vez de arriscar mais um vexame norte-americano, Bill Clinton bem que poderia passar a assistir a "Sessão da Tarde".

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