São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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Helen Chadwick traz fonte de chocolate a SP

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

O Reino Unido selecionou três mulheres para representá-lo na 22ª Bienal Internacional de São Paulo (de 12 de outubro a 11 de dezembro): Helen Chadwick, Cornelia Parker e Cathy de Monchaux. Outro britânico, Richard Long, participa da exposição como convidado da Bienal.
Em comum, a seleção britânica tem o uso de técnicas e materiais nada tradicionais como carne, dinamite e chocolate.
Chadwick, 41, é a mais famosa das três. Usando produtos como carne, larvas, urina e agora chocolate, a artista deixa poucas pessoas indiferentes ao seu trabalho.
Em sua última exposição em Londres, encerrada em agosto, Chadwick provocou polêmica principalmente por causa de "Cacao", uma fonte de 750 quilos de chocolate derretido que envolveu a Serpentine Gallery, no Hyde Park, com um cheiro enjoado e ruídos borbulhantes.
Ao redor da fonte de chocolate, estavam as "Wreaths" (Coroas), fotos de arranjos lúdicos de flores às vezes misturadas com materiais orgânicos. Tanto "Cacao" como 13 "Wreaths" estarão em exposição na Bienal.
Outra série de suas obras famosas são as "Piss Flowers" (Flores de Urina), realizadas entre 91 e 92 no Canadá. Um colaborador urinava na neve dentro de uma moldura, e o formato dos buracos servia depois como molde para Chadwick fazer pequenas esculturas, que acabaram tendo formatos fálicos.

Folha - A sra. disse que acha errado associar "Cacao" a excrementos, como fez a imprensa e boa parte do público. Por quê?
Helen Chadwick - Acho que esta é uma associação válida, mas uma entre muitas. Para falar a verdade, quando imaginei a obra pensei nisso, mas este não foi o único motivo para eu usar chocolate. Foi mais importante a associação do chocolate ao prazer.
Folha - Como surgiu a idéia para a fonte de chocolate?
Chadwick - Não lembro. Faz muito tempo, dois anos. Levou muito tempo para fazer isso. Envolveu muito planejamento, aconselhamento técnico, busca de fundos. E depois achar uma empresa para construi-la.
Folha - E as "Wreaths"? Como surgiu a idéia de criá-las?
Chadwick - Não é que você acorde um dia e tenha essa grande idéia. Eu estava interessada em usar materiais que seriam equivalentes à carne. Eu tenho trabalhado com carne. Mas queria algo menos óbvio e tenho interesse na associação entre flores e a sexualidade. Elas são os órgãos sexuais das plantas. Então decidi arranjar flores juntas para criar uma metáfora do tecido humano. Assim as pétalas são como a pele.
Folha - Da carne para flores, o trabalho da sra. está ficando mais suave?
Chadwick - A fonte de chocolate é suave?
Folha - Por que a opção constante em seu trabalho de usar materiais orgânicos?
Chadwick - Gosto da relação deles com a sensação de estar vivo.
Folha - Como a sra. se relaciona com o mercado de arte? É possível ganhar dinheiro no Reino Unido fazendo o tipo de trabalho que a sra. faz?
Chadwick - Para mim, a coisa mais importante é conseguir o dinheiro para fazer a próxima obra, é com isso que me importo. E até agora tenho conseguido. Não tenho nem tempo para gastar dinheiro com luxos. Eu trabalho muito.
Folha - A sra. espera se inspirar no Brasil para algum novo trabalho?
Chadwick - Eu espero que sim, não sei. Vai haver muito trabalho duro, trabalho técnico, então não estou prevendo ter muito tempo para inspiração. Espero passar alguns dias livres no Rio.
Folha - Por que a sra. não está levando as "Piss Flowers" para o Brasil?
Chadwick - No começo, nós pensamos em levá-las e colocá-las do lado de fora (da Bienal), na grama, mas houve preocupações com a segurança. E acho que seria um excesso para apenas uma artista numa exposição coletiva.

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