São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994
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"Marines" assumem o controle da capital

CLÁUDIO JÚLIO TOGNOLLI

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Os "marines", fuzileiros navais dos EUA, começam hoje a tomar lentamente as ruas de Porto Príncipe. Até ontem eles estavam confinados ao aeroporto e ao comando militar.
Ontem o Exército dos EUA deu início à invasão do Cabo Haitiano, no norte do país. Trata-se do ponto mais importante depois da capital. O Cabo é o lugar que separa Cuba do Haiti, por uma parte do mar do Caribe conhecida como Paso de los Vientos.
Na tarde de ontem, comandos isolados começaram a fazer varreduras em pontos pré-determinados, como a favela de Cité Soleil, lugar com mais de 2 milhões de eleitores do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide.
As tropas estão concentradas na rua Corsu, ao lado da avenida Grand Rue, de onde passa o comando de todas as ações. Trata-se do lugar mais belo da capital, algo semelhante à Baía da Guanabara, no Rio. Às 8h da manhã já faz um calor de 40 graus.
Foi desse local que na tarde do ontem partiu um comando que invadiu o moinho de açúcar Rasco e o Parque Industrial.
O coronel Barry Willey, porta-voz das tropas norte-americanas, diz que as ações estão se formando na tentativa de encontrar supostos focos de resistência, que estariam sendo formados por ordem de homens fiéis a Michel François, ex-chefe de polícia e líder dos "tonton macoutes", pistoleiros paramilitares notórios por agirem como "esquadrões da morte" durante o regime de François e Jean-Claude Duvalier ("Papa Doc" e "Baby Doc").
O cenário, apesar de não terem sido disparadas balas norte-americanas, é de guerra. Aviões Hércules C-130 e Galaxy desenham no ar cruzes voando sobre o destróier Nashville, passam sobre a embaixada norte-americana, sobre o palácio presidencial e depois cruzam os céus de Petyon Ville, a cidade da classe alta haitiana. A cada cinco minutos, cada avião faz uma volta no céu equivalente a um raio de 25 quilômetros.
Terminou ontem a entrega das armas dos soldados haitianos ao comando norte-americano. Foram recolhidos cerca de 2.000 fuzis M-16 iguais aos usados na Guerra do Vietnã e outros 3.000 fabricados na década de 50. Começaram a ser recolhidos também os rifles usados pelos militares haitianos na defesa de suas fronteiras.
Ontem começaram a atuar nas fronteiras soldados da Argentina e da Jamaica. Chegaram também à costa dois navios argentinos da força conjunta, que foram atracados ao lado do navio-hospital norte-americano Confort Chips.
(CJT)

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