São Paulo, sexta-feira, 23 de setembro de 1994 |
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Lula age como cachorro em dia de mudança
BARBARA GANCIA
Nesse caso, será que alguém poderia me iluminar e dizer quem foi o genial petista que encarnou o espírito do renegado Kaustky e resolveu decorar a sala em que Lula encontrou um grupo de aposentados, no início da semana, com aquela faixa contendo o simplório versinho do roqueiro morto: "Todo jornal que eu leio me diz que a gente já era, que não haverá primavera, oh baby, a gente ainda nem começou"? Cuma? "Oh baby"? É de se perguntar se Lula quer mesmo ser presidente do Brasil ou se ele pensa que está brincando de teatrinho de grupo escolar. Que ó bêibi o quê, meu filho! Se apruma! Nada contra o Raul Seixas, muito pelo contrário, mas o exemplo da faixa com seu ensinamento pop só demonstra o tipo de mentalidade pedestre, rastaquera, patética que abunda no PT. No fundo do âmago de seu ser íntimo (como diria Ana‹s Nin), Lula sabe que não está segurando a onda. A consciência de que não é possível contestar a eficácia do Plano Real emperrou qualquer ação do candidato e transformou seu partido em um bando de Belas Adormecidas. Até o momento –veja bem, eu disse: até o momento– além de ser incontestável, o Plano Real está servindo a um outro importantíssimo propósito. O de acabar de vez com o estigma de que o brasileiro não sabe viver sem inflação. As pesquisas eleitorais são prova concreta de que, quando não existe congelamento, ninguém esperneia se o contracheque no fim do mês não traz um aumento. Mas, em vez de entender que já deveria ter dado a eleição por encerrada e ter começado a fazer oposição à dureza que teremos de enfrentar nos próximos quatro anos –que é amplamente previsível se se levar em consideração outros países que fizeram planos semelhantes– Lula prefere sonhar e dar de ídolo teen. Pois eu digo: acorda Maria Bonita! Que o dia já está raiando e não dá mais para ficar correndo atrás do rabo feito cachorro em dia de mudança. Próximo Texto: Psico; Ciao, ciao, bambina; Sinal dos tempos Índice |
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