São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 1994
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Lula propõe conversa com FHC após eleição para manter inflação baixa

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, propôs ontem abrir uma "política de conversação" entre ele e o presidenciável tucano, Fernando Henrique Cardoso, seja qual for o vencedor da eleição.
Lula foi além: definiu até o item mais importante da agenda para esse diálogo: "Estou convencido de que, independentemente de quem ganhe a eleição, nós temos de fazer um esforço muito grande para que a inflação não volte mais neste país", afirmou Lula em entrevista exclusiva à Folha.
O candidato do PT incluiu "a retomada do desenvolvimento e a reforma tributária" como os outros pontos prioritários desse diálogo.
A estabilidade da economia, o desenvolvimento e a reforma tributária são, exatamente, três das prioridades de FHC.
Lula falou à Folha logo após o café da manhã, no hotel Luxor Regente, em Copacabana, zona Sul do Rio, no qual se hospedou após o comício da noite de quarta-feira.
As declarações do candidato do PT acabam sendo uma resposta indireta aos acenos igualmente indiretos que lideranças do PSDB e o próprio FHC vêm fazendo ao PT (leia reportagem a respeito na página Especial-3).
Combinam fortemente, por exemplo, com a proposta de um dos principais líderes tucanos, o ministro da Fazenda Ciro Gomes, no sentido de que a "hegemonia moral e intelectual (do próximo governo) deve ser do eixo PSDB/PT".
Intenção parecida tem o comando da campanha de FHC. Na semana passada, Sérgio Motta, secretário-geral do PSDB, especulava: "Por que não dar o Ministério da Educação todo ao PT?".
Como a Folha já informou ontem, há no PSDB a intenção de preservar ao máximo a figura de Lula, mesmo quando for necessário fazer críticas duras ao PT.
Lula devolveu a gentileza, na entrevista à Folha: "Nós preciamos estabelecer relações políticas e de amizade como sempre tivemos. Não vejo nenhuma razão para romper uma relação pessoal de 16 anos por mais que você possa ter discordâncias políticas".
O candidato do PT já raciocina além do episódio eleitoral em si ao defender a "política de conversação". Sua análise: "Independentemente de quem ganhe ou perca, os nossos partidos terão influência no Congresso e na sociedade e precisamos contribuir para tudo aquilo que for importante para o Brasil".
Lula deixou claro, ao longo da conversa com a Folha, que o diálogo com FHC deveria começar logo após terminar a apuração, hipótese que vale tanto para uma eventual definição no primeiro turno como para o caso de a decisão ficar para 15 de novembro.

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