São Paulo, sexta-feira, 30 de setembro de 1994
Próximo Texto | Índice

Atentados matam dez no Haiti

CLÁUDIO JULIO TOGNOLLI
ENVIADO ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Pelo menos dez pessoas morreram e 40 ficaram feridas ontem durante dois atentados praticados pela polícia haitiana e por membros de grupos paramilitares contra militantes pró-Aristide.
Na noite de anteontem, outras quatro pessoas também foram metralhadas por "attachés" –integrantes de grupos paramilitares– na favela de Cité Soleil.
As mortes são atribuídas a uma suposta vingança de Raoul Cedras contra a reabertura do Parlamento e o retorno ao país de Evans Paul, empossado ontem na Prefeitura de Porto Príncipe.
Por causa das mortes, as pessoas deixaram de sair às ruas e comandos da polícia do Exército dos Estados Unidos triplicaram seu contingente em Porto Príncipe.
A reportagem da Folha testemunhou três mortes ocorridas ontem.
Fazia um calor de 43 graus. Um grupo de 50 manifestantes, com galhos de árvores nas mãos, gritava: "Aristide, liberdade! Aristide, liberdade! O dia já chegou!".
Esta chamada havia sido ensinada a eles quatro horas antes pelo prefeito Paul que, cercado de mais de mil soldados em sua cerimônia de posse, pedia que a população adotasse esse lema como o oficial para pedir democracia nas ruas.
O grupo de 50 pessoas foi surpreendido por um automóvel Jeep onde estavam, armados, três oficiais vestidos de azul e outros cinco "attachés" à paisana, que traziam rifles M-16.
Quando viram a manifestação, começaram a gritar: "Morte aos seguidores de Aristide". A partir daí, começaram os disparos.
Um grupo de cerca de 500 pessoas, incluindo jornalistas, começou a fugir para o porto, em busca de socorro das tropas dos EUA. Três corpos ficaram no chão.
Quinze minutos antes, um tenente da polícia haitiana havia jogado, de uma caserna, uma granada em manifestantes que se aglomeravam na avenida de la Saline.
O tenente e outro homem, provavelmente um "attaché", foram detidos por soldados americanos.
Uma hora depois dos incidentes, o coronel Barry Willey convocou a imprensa para dizer que "esse tipo de terrorismo não vai impedir nosso trabalho pela instalação da democracia. Nossas tropas vão responder ao fogo, se necessário".

Próximo Texto: Hume é indicado para Nobel da Paz; Batida de trens mata seis na Alemanha; O CANDIDATO; Susana Higuchi racha partido do marido; Opas declara fim da pólio nas Américas; Hussein e Rabin se reúnem na Jordânia
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.