São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Qual foi o melhor ano da sua vida?

ALESSANDRA BLANCO
PATRICIA DECIA

ALESSANDRA BLANCO; PATRICIA DECIA; DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Balanço de vida é algo que se faz em véspera de casamento, velório de amigo ou nos últimos segundos do ano, quando já começou a contagem regressiva (10, 9, 8, 7...). A pedido da Folha, 60 personalidades pararam para pensar no que fizeram até agora e responderam à pergunta: "qual foi o melhor ano da sua vida?".
A enquete mostra que as pessoas mais díspares –como a atriz Sonia Braga, o cientista Robert Gallo e Pelé– deram respostas idênticas. Ladrões, cardeais, roqueiros, milionários e escritores "suaram" na hora de responder. "Nunca tinha pensado nisso" foi a primeira reação da maioria.
Alguns demoraram ("É muito difícil. Tenho que pensar na minha vida inteira...", disse o compositor João Gilberto) e dois intelectuais desistiram de vez. O professor e crítico literário Antonio Candido de Mello e Souza, 77, ficou com medo de arrumar briga com a filha ou a mulher. "Se disser que foi o ano em que casei, minha filha fica zangada. E imagine o que acontece se eu disser que foi quando conheci minha primeira namorada!" O linguista norte-americano Noam Chomski, 66, também negou fogo: "Não respondo perguntas pessoais como esta. Mais ou menos por princípio..."
No final, foi possível agrupar os depoimentos. Muitos homens e mulheres lembraram-se do ano em que nasceram os primeiros filhos (para desespero dos caçulas).
Ganhadores de Nobel, jogadores de futebol e políticos identificaram seus feitos profissionais como o melhor tempo de suas vidas. Veteranas do cinema e da televisão lembraram com nostalgia do "vigor da juventude".
Apenas um citou a infância e poucos falaram de conquistas amorosas –exceção para alguns casados que fizeram média com as mulheres e Adriane Galisteu, namorada de carteirinha de Ayrton Senna ("Apesar de ter só 21 anos, tenho certeza que 1993 sempre será o melhor ano de toda a minha vida. Amei, fui amada e continuo amando").
Entre os patriotas, que gostaram de 1994 por causa dos "progressos brasileiros", estão o novo presidente Fernando Henrique Cardoso, dom João de Orleans e Bragança e a advogada Meire Franco. O ex-presidente Itamar Franco também enumerou vários motivos nacionalistas para eleger 1994, mas poderia ser enquadrado entre os românticos: todo mundo se lembra que foi nesse ano que ele namorou June e sambou ao lado da desnuda Lilian Ramos.
Os mais felizes –Roberto Carlos, Ivo Pitanguy e o carteiro Sansão Santos de Oliveira– agradeceram a Deus e tiveram dificuldade em apontar um ano especial porque suas vidas têm sido uma sucessão de "momentos especiais".
Para os não tão felizes, restou a saída "Scarlet O'Hara", a heroína de "E o Vento Levou..." que, ao final de quatro horas de filme, exclama: "Amanhã é um outro dia". A bela e milionária Xuxa e o várias vezes campeão Emerson Fittipaldi estão nesse grupo. Os dois responderam que "o melhor ainda está por vir".
Uma "personalidade" não pode ser incluída em nenhum grupo. Por fax, ele pediu que fosse aberta uma exceção para que pudesse escolher o "pior ano de todos": "1994, quando perdi minha mulher e minha liberdade". Pense nos poucos ex-poderosos que acabaram o ano na cadeia e adivinhe quem é.

Colaboraram DANIELA ROCHA, de Nova York; Folha Sudeste e Sucursal do Rio

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Sobre os melhores anos nas páginas 4 e 5

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