São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Laranjeiras vira casa oficial do presidente no Rio

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A casa oficial do carioca Fernando Henrique Cardoso no Rio de Janeiro é um palacete que foi palco de alguns dos mais agitados acontecimentos da política brasileira nos últimos 40 anos.
Em busca de prestígio político em um ministério com nove paulistas, o governador eleito do Rio, Marcello Alencar (PSDB), ofereceu a FHC o Palácio Laranjeiras (zona sul), para servir de residência oficial.
O Laranjeiras –onde morou o presidente Juscelino Kubitschek– viveu os últimos dias do Rio como capital federal e viu as mudanças políticas que levaram à instauração do regime militar no país.
Lá o presidente João Goulart recebeu, em 64, a carta assinada pelo general Mourão Filho, informando que os militares queriam sua renúncia.
"Jango já saiu do Laranjeiras praticamente deposto", conta sua mulher, Maria Tereza Goulart.
Quatro anos mais tarde, no salão imperial do Laranjeiras, o general Costa e Silva, então presidente da República, assinou o AI-5, que restringiu liberdades individuais e políticas.
Para o governador eleito do Rio, Marcello Alencar, oferecer o palácio a FHC é uma forma de garantir sua presença no Rio e ajudar a recuperar a imagem e o prestígio político da cidade.
"Queremos que o presidente venha aqui e tenha uma casa carioca, onde ele possa descansar e trabalhar. O Rio é a cidade mais brasileira do país e precisa recuperar seu papel", afirma Marcello.
Juscelino foi o único presidente que passou todo o mandato vivendo no Laranjeiras. Ele não quis morar no Palácio do Catete, onde Getúlio Vargas se suicidara.
Até então, o palacete de Laranjeiras servia para receber hóspedes ilustres do governo federal. Para isso, havia sido comprado pela União à família Guinle, em 1947.
O palácio foi construído em 1913 por Eduardo Guinle. Os móveis e todo o material foram importados da França. O prédio é tombado pelo Estado e pela União.
Em 1976, com a fusão dos Estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, a União cedeu o Palácio Laranjeiras ao governo estadual, e o prédio se tornou a residência oficial dos governadores fluminenses.
Faria Lima (75-79) e Chagas Freitas (79-83) moraram no Laranjeiras. Leonel Brizola (83-87 e 91-94) e Nilo Batista (94) só o utilizaram para recepções oficiais.
O último governador a morar no Laranjeiras, Moreira Franco (87-91), lembra-se do palácio como "um lugar muito quente, bonito, e de pouca privacidade".
"Fizemos um jantar para um chanceler de Cuba na varanda, porque o calor dentro de casa era insuportável. Não tinha vento. Caiu uma folha de uma mangueira, e veio descendo, descendo. Não soprava um vento. A folha caiu no prato da mulher do chanceler", conta Moreira Franco.
Para receber o presidente eleito o Palácio Laranjeiras precisará de uma reforma no prédio e de reforço na segurança.
O Gabinete Civil do Estado, responsável pelo prédio, não quis informar o custo mensal da manutenção do palácio.
O governador eleito, Marcello Alencar, fala pouco sobre as reformas no Laranjeiras. Prefere deixar o assunto para depois da posse.
O administrador do palácio, Francisco Farias, anima-se com a idéia de ter um presidente por perto: "Com os salões vazios, é como se o tempo tivesse parado. Será bom ver o palácio mais vivo."

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