São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Planos para o passado

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA O TV FOLHA

Planos econômicos sempre começam com o ministro da Fazenda em rede nacional de TV, sisudo, anunciando as medidas como se estivesse mobilizando tropas e convocando reservistas para expulsar o inimigo do solo pátrio.
No dia seguinte, a TV transmite a entrevista coletiva em que a "equipe" explica como o cidadão comum será afetado.
Depois, no noticiário, lá está o cidadão comum na fila do banco. O desconfiado quer ver se fizeram direito a conversão dos saldos, o xereta quer saber quanto sobrou depois do confisco, o exibido quer trocar rapidinho suas notas velhas pelo reluzente dinheiro forte.
Minha mulher assistia comigo aos anúncios dos planos, fazendo comentários de um sarcasmo atroz. Mas, quando a professora Maria da Conceição Tavares chorou ao falar do Cruzado, e ela percebeu um nó na garganta de seu marido economista, inventou algo para fazer na cozinha e saiu discretamente. Talvez para rir, mas foi muito gentil.
Apesar de não ter conhecimento técnico, ela chegava com sua lógica impecável às mesmas perguntas torturantes que eu me fazia, sem encontrar a resposta. Ao final, citava o filósofo africano Hardy Har-Har: "Não vai dar certo, Lippy."
No plano Collor, afinal, a unanimidade. Enquanto a ministra provava por alfa mais beta (a mais b é para os humildes) que seria melhor para nós ficarmos ano e meio sem o suado dinheiro da entrada do apartamento, fazíamos coro com a Lillian Witte Fibe. Rosnando.

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