São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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FHC prevê desgaste nos primeiros meses

GILBERTO DIMENSTEIN; CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Influenciado pela crise mexicana, o presidente Fernando Henrique Cardoso indicou a seus ministros Pedro Malan (Fazenda) e José Serra (Planejamento) a disposição de encontrar uma fórmula "sem traumas" para reajustar o câmbio.
FHC mostra-se consciente de que a opinião pública irá julgá-lo, inicialmente, com base no período final do governo Itamar Franco –quando houve agudo consumo combinado com queda dos preços.
O reajuste no câmbio tende, porém, a elevar o preço dos importados, pressionando a taxa de inflação. Mas, ao mesmo tempo, resguardaria o nível de reservas, decisivo à estabilidade da economia.
A taxa de câmbio é a ponta mais saliente de um cenário compartilhado pelo presidente e seus assessores: o governo será submetido a uma fase inicial de desgaste.
O desgaste virá não apenas pela necessidade de medidas amargas de ajuste econômico (corte de gastos, enxugamento da máquina), enquanto se coíbe excesso de consumo através dos juros altos.
Há mais desgaste previstos para os primeiros meses. Por exemplo: o abono salarial anunciado por Itamar Franco. Este abono é só para janeiro (recebido em fevereiro), o que provocará uma sensação temporária de maior poder de compra em milhões de trabalhadores.
Já em março, porém, os trabalhadores não terão mais este dinheiro em seu salário. É como se tivessem, na prática, perdido o dinheiro. Assessores de FHC aguardam movimentos reivindicatórios para manter o abono.
É prevista uma onda de reivindicações do funcionalismo por aumentos, a exemplo da Polícia Federal –eles ganharam 100% em cima do salário-base.
Segundo os cálculos dos ministérios do Planejamento e da Fazenda, o déficit para o próximo ano é de aproximadamente R$ 11 bilhões, fragilizando a posição do governo para conceder ajustes salariais. O que deve provocar mais um desgaste se, como prometeu FHC, forem reajustados salários de assessores especiais, chamados agora pelo governo.
Para alterar a política cambial, uma das alternativas já em estudo é o reajuste classificado de "homeopático" –ou seja, feito vagarosamente, até que a relação real e dólar se iguale.

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