São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vantagens da parceria Mercosul-União Européia

ALIETO ALDO GUADAGNI

As profundas reformas econômicas realizadas na América Latina (AL), têm transformado a região em um continente apto não só para absorver um fluxo permanente de capitais, como também para desenvolver mercados de envergadura, graças à redução de barreiras fiscais e outras medidas de abertura comercial.
As exportações dos EUA para a América Latina, por exemplo, cresceram a um ritmo equivalente ao triplo do crescimento global a outros mercados. Se espera que para o final do século, as exportações dos EUA à AL, superem aquelas orientadas para a Europa.
O USR assume que até o ano 2010, as exportações dos EUA para a AL alcançarão US$ 100 bilhões anuais, acima das destinadas para a Europa. Similares estimativas se realizam com respeito ao comércio da União Européia (UE) com AL em geral e o Mercosul em particular, onde a UE incrementou consideravelmente suas exportações desde 1990 (mais de 40% entre 1992 e 1993), sendo, na atualidade, o mercado mais dinâmico para os exportadores europeus.
Um recente informe da Comissão Européia afirmava: "os agentes econômicos europeus acolhem positivamente o processo de modernização e liberalização empreendido pelo Mercosul e participam ativamente no mesmo. O Mercosul, que já representa atualmente um mercado de consumo significativo, tem um elevado potencial de crescimento. O Mercosul, é um novo pólo de crescimento mundial, e para a Europa, uma região estratégica, chave".
A UE é o principal sócio comercial do Mercosul, já que absorve 27% de seu comércio total, porém, a tendência atual é de "decrescimento", já que ao ritmo vigente esta magnitude cairia a um mínino de 22% até o ano 2000; a Comissão Européia estima que um acordo de liberalização comercial UE-Mercosul poderia, pelo contrário, rever esta tendência a fazer subir até 36% a importância do comércio entre estas duas nações alfandegárias; jogariam um rol dinâmico neste fortalecimento das correntes comerciais, rubros de alta tecnologia como a aeronáutica, eletrônica, informática", além de "material elétrico e automóveis".
Até agora foram as crescentes importações da Argentina (que se multiplicaram cinco vezes, desde 1989), mais suas privatizações e a acelerada modernização de sua infra-estrutura e meios de produção, que potencializaram a atração do Mercosul como um bom sócio para concretizar acordos de comércio e inversões. Se somam agora as novas possibilidades que significa o Plano Real e o maciço pronunciamento eleitoral, que consagrou Fernando Henrique Cardoso presidente do Brasil.
A ampliação de oportunidades no Mercosul são evidentes, se se aprecia que, apesar da rápida abertura comercial de nosso sócio, apenas importa na ordem de 5% do PIB. Há pouco tempo atrás, ou seja, durante a década de 70 e até a crise da dívida, o Brasil absorvia importações equivalentes a 9% do PIB. Com os capitais atraídos pela modernização e as privatizações que se aproximam, reservas cambiais recordes na sua história, e com um superávit comercial de US$ 1 bilhão mensais, o Brasil caminha rapidamente a um nível de importações na ordem de 10% do PIB.
Estes dados configuram um cenário promissor para o Mercosul que, como quarto bloco mundial, hoje chama seriamente a atenção de quem oferecer acordos liberalizadores de comércio e inversões e de abertura recíproca de mercados, não só Europa, como também na América.
O processo de integração do Mercosul ganhou credibilidade na escala mundial e como tal, é irreversível. Por este motivo, já é uma opção preferencial na rede de acordos esboçada pela UE, a pouco tempo circunscrita aos países da ex-Europa do Leste e seus vizinhos do Mediterrâneo.
Um acordo "interregional", entre a UE, que avança em direção à etapa superior da união econômica, e o Mercosul que consolida sua união alfandegária e transita rumo ao mercado comum, é bem vindo. Para o Mercosul, o acordo propiciaria um acesso garantido, previsível e preferencial ao mercado europeu (35% maior que o Nafta), além de melhores condições para a transferência de tecnologia e incorporação de bens de capital.
Por sua vez, a UE evitaria o risco potencial de marginalização frente ao fenômeno de aceleração da integração em outros continentes como América (Nafta) e Ásia (APEC), como também, fortaleceria sua situação de primeiro sócio comercial e inversor no Mercosul, expressão econômica da América Latina Atlântica.
A recente reunião de presidentes americanos em Miami e a reunião européia de Essen, constituirão passos positivos. Não se trata de iniciativas excludentes, e servirão para evidenciar a aptidão do Mercosul para pleitear uma negociação madura de abertura de novos mercados para nossas exportações, inclusive, as agropecuárias.
No mundo onde prevalece o comércio "administrativo", consolidam seu poder de negociação os países que oferecem mercados previsíveis e em expansão, e além disso, uma política comercial comum demarcando um significativo espaço econômico.

Texto Anterior: Memória inflacionária; Aprendizado lúdico; Investir é preciso; Mão oficial; Em expansão; Completando o serviço
Próximo Texto: CCE lança lavadoras de roupas no início do ano
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.